Leite, poesia em meio à aspereza da vida

Pequeno ensaio de Semih Kaplanoglu concorreu ao Leão de Ouro em Veneza

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Süt (Leite), de Semih Kaplanoglu, concorreu ao Leão de Ouro em Veneza este ano. Foi recebido como uma produção mais ou menos exótica, sem grandes direitos a efusões por parte da crítica ou dos cinéfilos. No entanto, exibe um começo forte, que deveria ter chamado mais a atenção. Uma mulher é pendurada pelos pés em cerimônia de exorcismo e vomita uma cobra. É a senha do filme para nos introduzir ao universo do personagem principal, Yusuf, e a cidadezinha onde mora nos confins da Turquia. O filme trabalha na sensação de estranheza baseada na justaposição de elementos julgados díspares, ao menos pelo senso comum. Yusuf trabalha na entrega de leite. Mora com sua mãe viúva, ainda jovem e bonita, que se dedica ao filho, mas parece preste a iniciar um relacionamento amoroso. Num ambiente tosco, Yusuf mantém aspirações poéticas. Ele e um colega. Há insinuação de tensão homossexual, também, entre os dois. Tudo isso em registro poético, no qual não existe uma história a contar, mas sensações e deslocamentos de significados. E, sim, um tempo de escoar lento em chave bastante sensorial. O filme reflete também sobre os desconfortos inevitáveis da modernização. Se Yusuf tem dúvidas sobre a sua sexualidade, também as terá em relação ao seu futuro material. Permanecer no trabalho artesanal ou afundar nas profundezas de uma mina, onde ganhará mais dinheiro? Esse pequeno ensaio poético não dá respostas prontas. Indica talvez a inevitabilidade de um processo econômico e joga luzes na intimidade do personagem através apenas do seu olhar triste, traço de uma interpretação minimalista. L.Z.O. Serviço Leite Reserva Cultural 1 - Hoje, 19h30

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.