Kevin, Nick e Joe: pureza explica tudo

Nada inédito no show dos Jonas, mas público de jovenzinhas não sabe disso

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Por Patricia Villalba
Atualização:

Foi a palavra de ordem de Fred Mercury em We Will Rock You que chamou os irmãos Kevin, Nick e Joe ao palco montado no Estádio do Morumbi na noite de domingo. Pode até ser que 90% da plateia - a maioria meninas adolescentes e pré-adolescentes - não faça a mínima ideia do que foi o Queen, mas o recado foi eficiente e prontamente acolhido. Se era para balançar, os Jonas Brothers balançaram. "Foi perfeito, o melhor show da minha vida", resumiu Isabela Kimura, de 12 anos, ainda em êxtase um minuto depois de a banda deixar o palco, às 21 horas em ponto. Foi a primeira vez dela na plateia de um show internacional, daí a afirmação "o melhor da vida" soar tão doce e até generosa com os irmãos Jonas. À plateia tão carinhosa, e a maior parte das vezes beirando a histeria, o grupo devolveu uma apresentação impecável e dotada de todos clichês do pop rock - o arrastar do pedestal do microfone, os beijos soprados às meninas da primeira fila, o bandleader enrolado na bandeira do Brasil e por aí vai. A vantagem é que os fãs são tão novinhos que acreditam que tudo aquilo é absolutamente inédito. Pureza é a palavra que resume tudo o que se viu no domingo. Começa pela pureza Mickey Mouse dos irmãos que, de tão certinhos, usam até um anel para simbolizar a virgindade que pretendem manter até o casamento. Vai parar na pureza da plateia que, jovem de tudo, acredita no pop de pretensa atitude rocker e passa o show inteiro exclamando "fofos, fofíssimos!" - a disseminação da "fofice" é mesmo um caso a ser estudado. E vai parar, enfim, numa certa pureza dos pais, que dão tudo de si para estreitar a convivência com os filhos. NA VEIA, NÃO! "Falei isso para eles hoje: meu pai nunca me levou para show nenhum, imagina. Mas, em compensação, me mostrou Led Zeppelin, Black Sabbath e todas as bandas maravilhosas do anos 70", divaga o jornalista Alceu Toledo Júnior, que mesmo não gostando "nem um pouco" dos Jonas, se engajou no programa com os filhos, Daniel e Caio, de 14 e 12 anos. "Hoje em dia eles começam muito mais cedo. Só fui ao meu primeiro show internacional com 22, 23 anos - Van Halen, em 82, no Maracanã." Com boas referências musicais em casa, Daniel e Caio desafiam a histeria na primeira fila e contrariam a ideia propagada aos quatro ventos de que os Jonas Brothers são "música cor-de-rosa". "A música deles é muito boa, não é coisa só de menina não", diz Caio. Como os fenômenos adolescentes anteriores, Lizzie Mcguire, Hannah Montana e High School Musical, os Jonas Brothers levam a marca da Disney. O que quer significar, na prática, uma divulgação planetária, uma extrema competência na execução do show e um controle de conduta, que garante a aprovação dos pais. Tirando a parte do código de conduta, não é nada diferente de todos os outros megashows internacionais, de Rolling Stones a Madonna, cada vez mais amparados na técnica, na parafernália e no ensaio exaustivo. O que chama a atenção, basicamente, é ver esse tipo de superprodução voltada para crianças. O megashow do domingo começou, como no Rio, no sábado, com a apresentação de Demi Lovato, outra estrela adolescente da Disney, que protagonizou o filme Camp Rock ao lado dos Jonas. Com camiseta do AC/DC e toda sinuosa, ela se movimentou no palco seguindo a cartilha de Axl Rose - o guitarrista dela, inclusive, usou uma cartola preta como o Slash dos velhos tempos. Acompanhados de oito músicos, entre eles dois violinistas e um quarteto de metais endiabrado, os Jonas começaram a apresentação com apenas cinco minutos de atraso, emendando uma meia dúzia de músicas. Depois de algumas frases pontuais em português - "e aí, galeraaaa?" - vieram muitos rodopios com guitarra, cambalhotas mil, e uma troca frenética de instrumentos. Os meninos parecem querer esfregar sua eficiência o tempo todo na cara do público. Nick, o mais virtuoso, tocou guitarra, violão, bateria e piano, como quem diz "não somos só rostinhos bonitos". Mas os rostinhos são bem bonitinhos, sim. Em certo momento, Joe tirou a jaqueta (preta, de couro, lógico) e o Morumbi quase vem abaixo - pureza e sex appeal não são excludentes, ao que parece. Em outro momento, logo depois de despejar uma garrafa de água na cabeça, ele desceu bem próximo à grade da primeira fila. Quase perdeu parte da roupa, mas com certeza ganhou hematomas dignos de estrela do rock que se preze.

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