Joyce se aninha no amor calmo

Dedicado a Shirley Horn, Bill Evans e João Gilberto, CD Slow Music é ode à vida mais leve e suave

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Por Roberta Pennafort
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"You turn back the clock/ Your turn down the speed/ And gently fall into bed." É a síntese da Slow Music de Joyce. Esta é a faixa-título de seu novo CD (Biscoito Fino), que ela dedica a Shirley Horn, Bill Evans e João Gilberto. "A rapidez da vida atual me incomoda. Não é normal", a cantora explica, deixando claro que a música que quer fazer passa longe do new age ou da lounge music. "Disso eu não gosto. É música ruim disfarçada de terapêutica", sintetiza. O projeto vem de dez anos. Começou com a vontade de gravar um disco de baladas. Passou por seu interesse pelo movimento slow food, antítese da fast-food, sua padronização e preparo descuidado. Incorporou novos parceiros, como a pianista e escritora norte-americana radicada na Alemanha Robin Meloy Golsdsy, com quem compôs, por e-mail, a faixa-título e também Convince Me. Em inglês, há ainda But Beautiful (J. Burke/J. Van Heusen), bastante gravada - até pelo ator/cantor Anthony Perkins, o Norman Bates de Psicose, cujo CD Joyce põe para a repórter ouvir, encantada. Em espanhol, canta Esta Tarde Vi Llover, bolero clássico do mexicano Armando Manzanero. Neste caso, foi a versão instrumental de Bill Evans que despertou sua paixão. Outras regravações são Amor, Amor (Sueli Costa/Cacaso), Medo de Amar (Vinicius de Moraes), Samba do Grande Amor (Chico Buarque), O Amor É Chama (Marcos Valle/Paulo Sérgio Valle) e Olhos Negros (Johnny Alf/Ronaldo Bastos) - esta, o ponto de partida do CD. Nova Ilusão (Zé Menezes/Luiz Bittencourt) é uma canção de 60 anos que fez parte do repertório dos Cariocas e da memória afetiva de Joyce. Além das duas compostas com Robin (que fez a letra e Joyce a música), há mais duas inéditas assinadas por ela: Sobras da Partilha, com Paulo César Pinheiro, e Valsa do Pequeno Amor, só sua. Esta dialoga com a de Chico - em vez de "verão a água e pão" e da "mão no fogo, com meu coração de fiador", Joyce fala da "febre comum que dá e passa/ feito fumaça, e tantas vezes voltará/ feito canção/ feito mistério ou chuva de verão". "Todo mundo fala do grande amor, mas ninguém pensa que treino é treino, e jogo é jogo", ela aponta. Ao comentar músicas como Medo de Amar, a qual nunca chegou a incluir em suas homenagens a Vinicius, revela que acredita ser necessário estar mais madura, "com casca", para poder entender o que a letra diz. Como no verso "o ciúme é o perfume do amor". Nessa década que o projeto levou para se concretizar, Joyce chegou ao formato que considera "essencial". A princípio, ela queria cantar com orquestra. Acabou com um trio que vale por muitos: Helio Alves (piano), Jorge Helder (baixo) e Tutty Moreno (bateria). O resultado é saboroso. "Foi bom ter feito esse disco no Brasil, com esses ingredientes. Música é comida para o espírito", diz. Aos 61 anos de idade e 40 de carreira (celebrados no ano passado), avó de cinco netos (com o sexto a caminho), Joyce viaja pelo menos metade do ano. Ao Japão, vai todo ano, desde 1991. Em março e abril, fez turnê pela Europa; em junho e julho, no Canadá. "Eles gostam de um lado meu mais suingado, que chamam de hard bossa. Feminina (sucesso de 1980) é um exemplo." Com Slow Music, a cantora e compositora está lançando três outros CDs. Visions of Dawn, gravado em Paris em 1976 com Naná Vasconcelos e Maurício Maestro, foi resgatado pelo selo inglês Far Out. Joyce with WDR Big Band Celebrating Jobim, com clássicos jobinianos, sai na Alemanha, Estados Unidos e Japão pelo Caracalla. Especialmente para o mercado japonês, foi feito Aquarius, com João Donato - este será lançado pelos dois com shows no Blue Note de Tóquio em setembro.

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