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Joss Stone e as cicatrizes que nunca foram feridas

Em show intimista no Bourbon Street, no sábado à noite, a cantora inglesa abraçou fãs e distribuiu flores

Por Jotabê Medeiros
Atualização:

Uma dezena de integrantes do mais radical fã-clube de Joss Stone está postada no centro do Bourbon Street Music Club, atrás de uma bancada de carteiras escolares. Noite de sábado em São Paulo. A bancada divide o público ao meio: os fãs atrás da linha divisória estão ali por um ato de generosidade do promotor do show; à frente desse esquadrão, no gargarejo, estão as pessoas que pagaram até R$ 850,00 para ver a cantora. O fã-clube é muito jovem, os outros são mais maduros. Parece que eles estão ali por motivos diferentes: para o fanático, Joss Stone sugere ser uma esvoaçante diva hollywoodiana; para o seu ouvinte mais maduro, ela canta coisas que eles já gostaram há 30 anos, mas que não tinham ouvido ainda desse jeito. De qualquer modo, o comportamento dos dois grupos não difere muito, eles aprovam enfaticamente a performance de sua heroína. Quando ela surge no palco, por volta das 23 horas, de vestido vermelho bem justo e com grandes aberturas laterais nas pernas, como uma Jessica Rabitt de sorriso infantil, os fãs gritam, declaram seu amor incondicional e alguns até choram. Nota-se então que Joss Stone é bem bonita, mais do que a gente pensava, e também é alta e esguia, magra e sensual. Dança sinuosamente, às vezes simulando um ou outro gesto convidativo para o meio da platéia, um aceno de cartoon, de Betty Boop. Mas parece que tem algo errado: um simples olhar furtivo de Cassandra Wilson, por exemplo, é cem vezes mais sexy do que todo o remelexo de Joss. Talvez seja a idade, talvez seja uma noite pouco inspirada. O show do Bourbon Street, de caráter beneficente (a renda foi revertida para a Associação Cruz Verde) é, em toda a turnê de Joss Stone, o que permite a melhor avaliação de sua performance e de sua banda, composta por dois tecladistas, um saxofonista, um trompetista, baterista, guitarrista e baixista e três cantores de apoio. Pelas dimensões reduzidas da casa, pela proximidade com a cantora, é possível ver que ela é tecnicamente perfeita. Mas, como diria Humphrey Bogart, também é fácil de ver que, assim como Amy Winehouse está duas doses acima do resto da humanidade, Joss Stone está duas doses abaixo. O que sobra de bas fond em Amy, não chega nem perto de Joss. Seu problema é que Joss não parece sentir nada daquilo que canta, as palavras lhe são alheias, como se fuçasse cicatrizes de feridas que nunca teve. Falta-lhe o batismo da sarjeta, para voltar às citações (aqui, de Wilde). Joss Stone passeia pelos gêneros, começando com aquele que lhe deu fama, uma abordagem neosoul, um mergulho retrô no som black dos anos 1970. A cantora levantou o público com sucessos como Super Duper Love (aquele megahit do ''dig on you'', que ela interpreta regendo o coro da platéia), Tell me What we''re Gonna Do Now e Victim of a Foolish Heart. Joss Stone, que é inglesa, também se deixa contagiar pelos gritos histéricos dos fãs e interage o tempo todo com eles. Conta historinhas padronizadas, antes de músicas de caráter autobiográfico, como Music (antes, ela faz um pequeno discurso dizendo de como é melhor que o sentimento fique mais restrito às canções, porque a música não a desilude). Music, do seu disco mais recente, Introducing Joss Stone (2007), é um híbrido de soul e hip-hop, uma canção de transição. A cantora manda uma seqüência de soul songs na qual parece levar a voz até um limite insalubre (Put your hands on me, Baby baby baby e Don''t cha wanna ride). Ali pela sétima canção, ela vai até o fundo e volta com uma xícara de algo fumegante, que toma. Talvez chá de gengibre, mas ela brinca e diz que é brandy. Canta canções pop tingidas de funk (a cozinha ajuda, com o baixo como destaque): Bad Habit, Tell me ''bout it, Spoiled e Security (essas duas últimas do álbum Mind, Body & Soul, de 2004). Ao final, Joss oferece solos de apresentação para cada um de seus músicos e cantores. São duas garotas e um rapaz, todos muito bons. O garoto canta Superstition, de Stevie Wonder, e mostra que tem calibre para uma carreira-solo. Depois, como um Roberto Carlos sem chapinha no cabelo, Joss Stone vai até o fundo do palco e volta com um maço de flores, que distribui para a platéia, entre beijos e abraços, enquanto a banda se despede com Bob Marley, No Woman No Cry. A noite de hoje é a vez do Via Funchal, que já está completamente lotado. Serviço Bobby McFerrin. Teatro Municipal (1.580 lug.). Pç. Ramos de Azevedo, s/n.º, 6163-5087. Dom., 19 h. R$ 50/R$ 150 Bridgestone Music Festival. Citibank Hall (1.450 lug.). Av. dos Jamaris, 213, 6846-6040. 5.ª a sáb., 21 h. R$ 30/R$ 90 Chuck Berry. HSBC Brasil (1.800 lug.). R. Bragança Paulista, 1.281, 4003-1212. 4.ª, 21h30. R$ 180 a R$ 300 Joss Stone. Via Funchal (5.400 lug.). R. Funchal, 65, 3188-4148. Hoje, 22 h.R$ 150/R$ 400

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