Joseca Yanomami mostra seu povo no Masp

A exposição 'Nossa Terra-Floresta', do artista indígena, reúne 93 desenhos sobre o cotidiano dos ianomâmis

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Foto do author Antonio Gonçalves Filho
Por Antonio Gonçalves Filho
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Joseca Yanomami é um dos 30 mil indígenas ianomâmis que lutam para sobreviver numa Amazônia invadida por garimpeiros e traficantes de droga. Sua exposição Nossa Terra-Floresta integra a programação bienal do Masp dedicada às Histórias Brasileiras (2021-22) e reúne 93 desenhos produzidos pelo artista entre 2011 e 2013. O curador David Ribeiro lembra que a mostra marca os 30 anos da homologação da terra indígena ianomâmi e diz muito sobre a visão cosmogônica de um artista que criou a primeira escola na comunidade Watoriki, onde vive o escritor e xamã Davi Kopenawa.

Os xamãs seguram a terra quando esta entra em caos Foto: Masp

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“A coleção apresentada na exposição é bastante expressiva e se divide em dois eixos: desenhos que registram o cotidiano da tribo e os que traduzem o universo cosmológico com os mitos xamânicos dos ianomâmis”, explica Ribeiro, que trabalhou ao lado do diretor artístico do Masp, Adriano Pedrosa, na curadoria da mostra, acompanhada de um catálogo com desenhos e textos de Joseca Yanomami.

Entre esses desenhos está o da capa, a imagem de um espírito ligado à fartura de alimentos. Já na contracapa, três espíritos observam a aldeia e chamam a atenção para o garimpo predatório, segundo o curador David Ribeiro. Seus desenhos traduzem os sonhos e histórias narradas pelos xamãs num registro lírico ligado aos valores morais e religiosos dos ianomâmis.

Osxapiri dos xamãs do Watorikɨ descem na aldeia Foto: Masp

Joseca Yanomami fundou, nos anos 1990, a primeira escola ianomâmi de seu grupo (são 200 as comunidades de sua etnia), levando crianças a aprender línguas. Na época, o artista produziu folhetos bilíngues (ianomâmi/português) para programas de educação escolar e de saúde criados por ONGs brasileiras. Joseca foi o primeiro ianomâmi a trabalhar na área da saúde.

A carreira artística de Joseca começou nos anos 2000 com esculturas de animais da floresta e evoluiu para a arte bidimensional, especialmente o desenho.

Yamanayoma, o espírito feminino da abelha, garantem que os alimentos cresçam bem. Foto: Masp
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