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Jogo de luz e sombras, por Decouflé

Coreógrafo francês dá a largada em temporada do gênero no Teatro Alfa

Por Livia Deodato
Atualização:

Original, mero esteticista da dança, criativo, puro ?entertainer?, um gênio. De todos os adjetivos já postados pela crítica do mundo inteiro, o que talvez defina melhor a arte do coreógrafo francês Phillipe Decouflé seja: inclassificável. Pelo menos é assim que ele gosta de ser sempre lembrado, em qualquer entrevista que conceda. À margem de toda e qualquer depreciação ou ovação ao seu trabalho, que vem construindo ao longo de 24 anos, Decouflé arrebanha por onde passa um número cada vez maior de fãs, sejam crianças, jovens, idosos, homens ou mulheres, encantados com o que de mais inusitado ele pretende sempre levar ao palco. Sua arte, carimbada pelo fator-surpresa, já ultrapassou os palcos e ganhou a televisão, outdoors e revistas. Dirigiu videoclipes de bandas britânicas (New Order e Fine Young Cannibals) e mostrou o seu brilho tanto na abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de Albertville, na França, em 1992, como no aniversário de 50 anos do Festival de Cinema de Cannes, em 1997. Prestes a trazer o espetáculo Sombrero, de 2006, pela primeira vez ao País, o coreógrafo que estudou com o notável mímico Marcel Marceau (morto em setembro do ano passado) adianta, com exclusividade ao Estado, que está trabalhando duro na criação de um novo show para o Cirque du Soleil, previsto para estrear em Los Angeles, em 2010. "Trata-se de um espetáculo sobre cinema, que vai ser apresentado no Kodak Theatre. É um projeto muito empolgante, que mistura dança, acrobacias e muitos efeitos visuais", conta, sem revelar detalhes. Profissionalmente, é a quarta vez que Decouflé desembarca no Brasil com sua companhia, a DCA (Decouflé & Complices Associes ou, se preferir, Danse Compagnie d?Art). O francês, de 46 anos, já mostrou Triton, em 1992, e Decodex, em 1996, no Teatro Municipal de São Paulo, e Shazam!, há oito anos, no próprio Teatro Alfa, para onde novamente se dirige com Sombrero, de hoje a domingo. No entanto, tem ainda os cheiros e as imagens que levou de Minas Gerais, há mais de 20 anos, muito bem guardados em sua memória. "O Brasil é um país quente, belo, que possui músicas e danças maravilhosas. Mas o meu melhor souvenir que já levei foi a primeira viagem que fiz até aí, mais precisamente para Ouro Preto e Tiradentes, ao lado da minha namorada. Deixou fantásticas impressões em mim", lembra. Impressões que fazem toda a diferença no processo de criação de suas obras - arranca suspiros da platéia graças "à sua equipe, à sua vida e aos seus sonhos" . No caso de Sombrero, que teve trilha sonora pensada exclusivamente por Brian Eno, Decouflé foi buscar referências na arte expressionista: "E em todas as sombras que já vi", diverte-se. Aliás, o título do espetáculo que nos remete automaticamente ao espanhol de chapéu, foi pensado primeiramente sobre um jogo de palavras em francês: ?sombre? (escuro) adicionado a ?héros? (herói). "É um show sobre sombras, luz e escuridão. E aproveitamos esse título para incluir cenas com ?sombreros? de verdade e muitos elementos mexicanos." Demais interpretações ficam por sua conta e risco. Decouflé não esconde suas pretensões a quaisquer críticos que possam torcer o nariz e julgar sua arte tão rasa quanto uma piscina de plástico para crianças de até 2 anos. "Meus shows são puro entretenimento. Eu procuro criar efeitos mágicos, emocionais ou cheios de humor. Quero que a platéia sinta prazer ao assistir a meus espetáculos e diga que se divertiu, acima de tudo." Num mundo permeado por profusões da chamada arte contemporânea, dentro do qual difícil é distinguir o que tem fundamento e o que é apenas formado por lixo não-reciclável, o francês afirma ter uma técnica simples para analisar o contexto artístico em que estamos inseridos: "Seleciono o que é arte verdadeira com meu nariz, meus ouvidos e meus olhos."

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