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Jean Rouch e o espírito ''nouvelle vague''

Programação analisa etnógrafo e cineasta que foi essencial no movimento

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

No seu livro La Nouvelle Vague - Portrait d?Une Jeunesse, o crítico e historiador Antoine de Baecque analisa o movimento que revolucionou o cinema francês (e mundial), por volta de 1960 como uma reação de jovens franceses aos velhos senhores que dominavam a cultura e a política do país. Baecque contextualiza a nova onda e observa que ela não durou mais do que três anos, de 1959 a 62, mas sua influência foi das mais significativas, e não apenas na França. Como um tsunami, a onda francesa invadiu outras praias e se espalhou pelo mundo. O crítico estabelece a lista dos 20 filmes que, segundo ele, fizeram a nouvelle vague. Os Incompreendidos, Hiroshima Meu Amor, Acossado, Os Primos - estão todos lá, os cults de François Truffaut, Alain Resnais, Jean-Luc Godard e Claude Chabrol. Cronologicamente, Baecque inicia sua lista com outro Chabrol - Nas Garras do Vício (Le Beau Serge) - e com um filme de Jean Rouch, Moi, Un Noir (Eu, Um Negro). Ambos são de 1958, portanto anteriores, ao que o autor situa como o começo do movimento, mas Rouch é essencial e seu filme integra a retrospectiva com que a Sala Cinemateca contempla o autor. Jean Rouch tornou-se uma referência básica do cinema etnográfico. Engenheiro de formação, ele levou para a tela seu gosto pelas exatas. Foi sempre um observador meticuloso, organizado, mas seu cinema não seria o que é, se não o tivesse filtrado pela poesia. Os críticos, por sinal, hesitam diante de Jean Rouch - Jean Tulard, em seu Dicionário de Cinema, diz que ele fez cinema-verdade, mas também cinema-poesia, como resultado das duas influências que sofreu desde a infância e que o levaram a querer se tornar cineasta, Friedrich Wilhem Murnau e Robert Flaherty. Investigador de culturas primitivas, Rouch desenvolveu boa parte de sua obra na África (Nigéria, Gana, Mali, etc.). Eu, Um Negro mostra um grupo de jovens num bairro popular de Adijian. Rouch revela não apenas seu cotidiano como seus sonhos e aspirações. Esses jovens são marcados pelo cinema que veem - um cinema do colonizador. Mas Rouch também fez, em parceria com o sociólogo Edgar Morin, Crônica de Um Verão, que se passa na capital francesa e seu episódio de Paris Visto por..., de 1965, contempla a Gare du Nord. Cahiers du Cinéma escreveu certa vez que o cinema de Jean Rouch era inimitável, além de crítico e reflexivo. Ele trabalha o documentário nas bordas da ficção. Sua contribuição maior à nouvelle vague foi o desenvolvimento de câmeras e microfones portáteis para captar imagens e sons ao vivo, fora do estúdio. Jean Rouch ajudou a colocar o cinema francês na rua e isso estava na essência do espírito ?nouvelle vague?. Serviço Cinemateca Brasileira. Largo Sen. Raul Cardoso, 207, 3512- 6111 (r. 215). Amanhã, a partir das 14h30. Grátis. Até 28/6

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