Jean Oury fala sobre Jean Vigo

Amigo de Lygia Fagundes Telles, psicanalista faz palestras

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Por Ubiratan Brasil
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Em 1973, a escritora Lygia Fagundes Telles ouviu do marido, o crítico Paulo Emílio Sales Gomes, uma história que lhe pareceu engraçada. "Ele me contou que tinha um amigo francês que estudava a estrutura da bolha de sabão. Fiquei fascinada, pois me fez lembrar da minha infância, quando soprava bolhas e corria atrás com o instinto perverso de estourá-las", conta a autora que, inspirada, escreveu um conto intitulado justamente A Estrutura da Bolha de Sabão. Anos depois, Lygia descobriu que o tal amigo de Paulo Emílio era o filósofo francês Jean Oury, que participa amanhã e sábado de palestras na unidade do Sesc Paulista, sempre às 18 horas - na sexta-feira, ele conversa com o público, a partir das 17 horas, na PUC de São Paulo.Psiquiatra e psicanalista, Oury é, aos 85 anos, o fundador e diretor da clínica de La Borde, que inovou o trato com o sofrimento psíquico a partir da psicoterapia institucional. Boa parte dessa experiência é relatada no livro Coletivo, conjunto de ensaios organizado por Antonio Lancetti e que a editora Hucitec lança depois do debate na PUC. Para essa edição, Oury escreveu um prefácio especial, em que detalha sua amizade com Lygia Fagundes Telles e Paulo Emílio Sales Gomes.A primeira palestra programada para amanhã no Sesc, que faz parte da ocupação Ueinzz (série de eventos programados no espaço até o dia 20), leva o título Toda Criação Verdadeira É Um Processo de Autoconstituição. "O que está em questão é um processo de criatividade que é, ao mesmo tempo, um processo de "reconstrução de si mesmo"", afirma ele.No sábado, Jean Oury vai revelar suas impressões a respeito da obra de um cineasta cuja admiração o uniu a Sales Gomes: Jean Vigo. "Um dos filmes básicos de La Borde é Zero de Conduta de Vigo. Eu me identifico", comentou o psicanalista, reconhecendo que o crítico brasileiro escreveu a melhor biografia do cineasta francês e que será relançada neste mês pela Cosac Naify.O conto de Lygia integrou uma coletânea publicada em 1978 mas, a pedido do editor, foi lançada com o título Filhos Pródigos. "Anos depois, recebi uma carta de uma editora francesa interessada em publicar o livro, mas pedindo para mudar o título para A Estrutura da Bolha de Sabão", comenta a escritora. "Acredito em histórias circulares."

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