Irônico e dançável, Neon Neon conecta hip-hop e pop art

Gruff Rhys, vocal da dupla e líder do grupo galês Super Furry Animals, fala de seu projeto paralelo com o produtor Boom Bip

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Por Jotabê Medeiros
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O galês Gruff Rhys já esteve no TIM Festival anteriormente, com sua banda Super Furry Animals. Foi um auê. Agora, ele volta a bordo de um projeto paralelo, o Neon Neon, que tem apenas dois elementos: Rhys e o produtor norte-americano de hip-hop Boom Bip. Em entrevista por telefone, Rhys falou da experiência que foi mixar um disco no Brasil na época do seu show ("Bons tempos, fizemos um trabalho muito bom com o Mario Caldato") e, pelo que contou do disco Stainless Style, seu novo trabalho com o Neon Neon, é um conceito semelhante ao da pop art, apropriando-se de signos da indústria cultural. No ano que vem, ele adianta, sai um novo álbum do Super Furry Animals, cuja idéia lembra a do livro Ulisses, de James Joyce - uma ação que remonta um dia na vida de um personagem. Você é muito bem-sucedido com o Super Furry Animals. Qual a ambição em ter uma banda paralela? Não há ambição alguma. Ou melhor: a ambição é fazer um disco bem maluco sobre a vida, sobre o dia-a-dia de caras como eu e Boom Bip. É algo que eu sonhava fazer há muito tempo. Há três anos eu conheci Boom Bip e começamos a imaginar esse trabalho. Mas a realização foi rápida: mixamos o disco em apenas três semanas. O que vê de mais original nesse trabalho? O que é mais interessante é a transposição de uma vida, de uma biografia, para a música. É um disco que é controverso em alguns momentos, que fala da mitologia das corridas e de aspectos da vida de um famoso industrial de automóveis (John DeLorean, preso por tráfico de drogas e que morreu em 2005, aos 80 anos, falido e clamando inocência). É suave em alguns momentos, em outros é mais denso. Há faixas batizadas com nomes estranhos, como dos astros hollywoodianos Michael Douglas e Rachel Welch. Por que Douglas e Rachel? É parte das nossas obsessões cotidianas, a figura dessas celebridades como Douglas, Welch ou Candice Bergen. Nós procuramos tornar esses ícones parte do tratamento comum da nossa vida, trazê-los do Olimpo para a vida real. As músicas se apropriam de tudo isso: filmes, programas de TV, e fazemos um mix irônico disso tudo com o hip-hop. Não é a representação de uma pessoa, mas de sua imagem, é a imagérie de Hollywood nos servindo de combustível, esse mundo dominado pela cirurgia plástica. Nós vimos esse disco como a oportunidade perfeita para brincar com um certo sarcasmo. Você também prepara um novo disco com o Super Furry Animals, não? Sim. Estamos em processo de pesquisa e gravação de demos e devemos finalizar o novo disco antes do final do ano. Nossos discos sempre são diferentes uns dos outros e esse agora vai ser um dos mais ambiciosos, muito aberto, muito diferente do que normalmente fazemos. Vamos gravar com uma orquestra e não haverá letras, apenas música. Será uma espécie de história contada em 24 horas de música, como se fosse um dia na vida de uma pessoa. É difícil de descrever, mas será algo assim.

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