Irmãos fogem do humor impiedoso e queimam o filme

Em trama previsível, agência americana é tratada como loucademia de espiões

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

É a pergunta que não quer calar - o que anda ocorrendo com o cinema norte-americano de autor? Não se pode dizer que filmes como Vicky Cristina Barcelona e Queime Depois de Ler sejam ruins, mas daí a gostar... Woody Allen repete um monte de estereótipos sobre os estilos europeu e norte-americano de viver. Um reprimido, o outro mais libertário, nada que um bom ataque de nervos e uma sessão de sexo regada a vinho espanhol não consigam resolver. E Woody Allen depende cada vez mais do narrador m seu cinema. Às vezes, como em qualquer novela das 8 - estética televisiva? -, o narrador reitera o que o espectador já viu ou antecipa o que vai ver. Os críticos amam, o público acha que é inteligente. Vicky Cristina Barcelona é o Candelabro Italiano dos anos 2000. Queime Depois de Ler, de certa forma, é pior. Entraram ontem dois novos filmes sobre espionagem. O de Ridley Scott, Rede de Mentiras, discute a guerra da informação e opõe a visão distante dos burocratas à urgência dos agentes de campo. Interessante. Os irmãos Ethan e Joel Coen retomam a atração pela boçalidade que vem dando as cartas de seu cinema desde Fargo e, de certa forma querendo refletir a malfadada era George W. Bush - que já vai tarde -, encaram a CIA como uma loucademia de espiões atrapalhados. Dá tudo errado a partir do momento em que John Malkovich, pensando que vai ser promovido, recebe um pé (você sabe onde). Ele se vinga escrevendo um livro sobre os pobres da agência, que vai parar na academia de ginástica de Frances McDormand, cujo melhor amigo é o personal trainer Brad Pitt. Depois de muitas loiras burras, Hollywood - os Coen - criaram o loiro burro e efeminado, incapaz de juntar dois neurônios porque não tem. Queime Depois de Ler é o mais previsível dos filmes imprevisíveis. Se você acha divertido ver George Clooney bancar o sonso para arranhar sua imagem de galã, se quiser ver Brad Pitt compor um personagem bizarro de olho no Oscar de coadjuvante - será o Javier Bardem deste ano? -, poderá se divertir bastante. O mundo explode, vai tudo para o ralo para que Frances McDormand consiga atingir seu prosaico objetivo, que é uma cirurgia de auto-invenção. Nem tão impiedosa na sátira e bem menos mórbida do que outras comédias dos Coens, Queime só não celebra a boçalidade da era Bush porque ela é anterior na carreira dos irmãos. Gostar ou não gostar, eis a questão. Queime bem poderia ir para o ralo, com Bush Jr. Daqui a pouco, ninguém mais vai ser lembrar de suas ?invenções?, sinal de que não são tão inventivas assim.

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