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Intimidades de um artista surgem salpicadas de tinta

Individual do alemão Gerard Richter traz 410 obras inéditas, oferecidas a amigos

Por Camila Molina e MADRI
Atualização:

A mostra Fotografia Pintada, do pintor alemão Gerard Richter, na Fundação Telefonica, apresenta uma faceta do trabalho do artista que poucos conhecem. Desde 1989, Richter pinta com os restos de tintas usadas para fazer suas telas abstratas sobre pequenas fotografias (geralmente de 10 a 15 cm) amadoras, que ele mesmo faz de seu cotidiano e de sua intimidade. Essa não é uma série que expõe ou que já foi publicada em catálogo, porque são obras que o artista dá de presente a amigos - ele também colocou alguns poucos exemplares para que fossem comprados por um grupo seleto de colecionadores, o que as transforma em algo especial. A exposição do Photoespaña 09 faz uma extensa panorâmica desses trabalhos ao mostrar 410 obras dessa série tão única e inédita - e como diz o curador alemão Markus Heinzelmann, foi uma tarefa de fôlego reunir todas essas obras que, depois, voltarão para as casas de seus proprietários. A relação entre fotografia e pintura é cara na produção do artista, mas nesses trabalhos agora expostos ele combina essas duas vertentes da maneira mais direta possível. "Ele está interessado em cobrir a realidade da fotografia e, assim, cada uma delas pode abrir várias interpretações", diz Heinzelmann, que assina a curadoria com Sérgio Mah. "A fotografia é um corte no tempo e ela não tem cheiro. Pintar sobre ela significa dar espessura, um novo tempo, transformá-la", afirma ainda o alemão. Richter, segundo ele uma pessoa tímida e reservada, usa fotografias que faz de sua família, de si mesmo, de suas férias na casa em que fica na Suíça e de seus amigos. Curiosamente, ele as pinta com os quilos de tinta a óleo que ficam em sua espátula "Doctor Blade" - por vezes pressionando a imagem contra o material. Cria, portanto, realidades diversas na fronteira entre abstração e figuração.

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