Inquietude que marca a arte de um desobediente

Sem seguir segmentações por data ou suporte, mostra do espanhol Pablo Palazuelo reúne 160 obras que reafirmam os seus campos de força visuais

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Por Maria Hirszman
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A obra de Pablo Palazuelo (1915-2007), exposta a partir de hoje na Estação Pinacoteca, não deve ser pensada dentro dos cânones tradicionais da arte moderna. O artista espanhol, que nas últimas sete décadas se pautou por um universo compositivo reduzido e por um permanente desejo de experimentação, tem grande sintonia com as experimentações geométrico-construtivas que marcaram as artes do século passado. No entanto, não se trata de uma obra que se queira autônoma. ''Trata-se da construção de um espaço de relação, que se abre ao espectador e não apresenta nada de concluído'', explica Teresa Grandas, uma das curadoras da mostra Palazuelo: Processo de Trabalho, que já foi exibida na Espanha e na Colômbia. Exatamente para enfatizar sua maneira aberta de trabalho, a exposição não se organiza cronologicamente, mas sim em torno de um conjunto de questões retomadas ao longo do tempo pelo artista. Nada de segmentações por data ou suporte, já que Palazuelo não obedece a nenhuma hierarquia nesse campo, trabalhando simultaneamente a pintura, o desenho e a escultura e introduzindo de maneira evidente elementos provenientes de sua formação de origem, a arquitetura. São 160 obras que nascem das mesmas matrizes e inquietudes, retomadas aqui e ali ao longo de sua longa carreira, acrescenta a curadora. Ajudando a compreender um pouco mais sua curiosa capacidade de construir campos de força visuais, a partir de um conjunto limitado e repetitivo de elementos, o próprio Palazuelo afirma que para ele as ''formas são férteis, vivas''. ''A operação dos pontos, linhas, superfícies e cores é ampla, lenta, tortuosa, cheia de erros, de cegueiras, de dúvidas, angústia e perigo, mas também dão, em paralelo, paz, equilíbrio, profunda satisfação, prazer e liberdade hilariante'', resume ele em depoimento reproduzido no alentado catálogo editado por ocasião da abertura da retrospectiva em Barcelona. Nesse processo de plasmar formas potentes, no qual se combinam aspectos de caráter inconsciente com um esforço intencional, consciente, é possível identificar algumas associações interessantes, exploradas pela crítica na tentativa de sintetizar essa produção. Em primeiro lugar, está a força já mencionada da arquitetura em sua obra, mas também é intensa nessa produção referências ao universo da paisagem (sobretudo as aéreas), das partituras musicais e da construção de uma grafia particular e misteriosa. BRASILEIROS Pouco conhecido pelo público brasileiro, apesar de ser apontado como um dos principais artistas espanhóis da segunda metade do século 20, Palazuelo tem mais em comum com um número significativo de artistas brasileiros do que a mera dedicação à arte abstrata. Ele, como vários de nossos expoentes do período, são dificilmente classificáveis, diz Teresa Grandas. Mesmo sem conhecer alguns dos artistas reunidos na mostra paralela Experiências em Torno da Abstração com obras do acervo da Pinacoteca e da Fundação Nemirovsky, ela considera oportunidade interessante contrapor as inquietudes de Palazuelo com obras de autores brasileiros como Mira Schendel, Lygia Clark, Mavignier, Alfredo Volpi e Maria Leontina - selecionados por Taisa Palhares - que, com ele, compõem um amplo time de criadores que não cabem nos parâmetros e modelos fixados pela historiografia oficial. Serviço Palazuelo: Processo de Trabalho e Experiências em Torno da Abstração. Estação Pinacoteca. Largo Gal. Osório, 66, Luz, 3337-0185. 3.ª a dom., 10 h/18 h. R$ 4 (sáb., grátis). Até 25/5. Abertura hoje, 19h30, para convidados

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