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Ilustrando os direitos humanos

22 curtas, feitos por artistas de 19 países, celebram os 60 anos da Declaração

Por Livia Deodato
Atualização:

Um homem jovem e branco está sentado sozinho em um banco dentro de um trem quando, cheia de sacolas, entra uma mulher jovem e negra. Antes de se acomodar, ela distribui suas bolsas pelo bagageiro, bem acima da cabeça desse homem, sob seu olhar atento. Ambos se observam, mas seus olhares não se encontram. O jovem sente uma goteira em sua careca - ela pega a sacola novamente e descobre que o frasco de seu perfume estava aberto. Não demora muito para chegar o ponto de desembarque da garota. Ele ensaia algumas palavras invisíveis. Ela tenta retribuir sorrindo com os olhos. Ao se retorcer para olhar pela janela, ele expõe a tatuagem de uma suástica na nuca. Impasse, do cineasta Bram Schouw, dos Países Baixos, faz parte da série de 22 curtas-metragens realizados a pedido do Alto Comissariado das Nações Unidas em comemoração aos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos (a serem completados no próximo dia 10 de dezembro). Artistas, cineastas e produtores independentes de 19 países diferentes foram convidados para ilustrar em vídeo seu entendimento sobre um dos seis temas propostos, retirados da Declaração - cultura, desenvolvimento, dignidade e justiça, meio ambiente, gênero e participação. Produzida pela organização não-governamental Art of the World, a iniciativa faz sua estréia mundial hoje no CineSesc, entidade que também deu todo o suporte para a realização, juntamente à Fundação Padre Anchieta e à Comissão Européia do governo francês. "Há cerca de um ano fomos procurados pela Art of the World com a intenção de ter o envolvimento brasileiro de várias formas, mas principalmente: firmar parceria com o Sesc para a produção de um dos filmetes e, conseqüentemente, a exibição do resultado na SescTV e nas articulações públicas e privadas", conta Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc São Paulo. Walter Salles e Daniela Thomas foram os convidados a conduzir o curta de três minutos representante do Brasil. Viagem, escrito por ambos e dirigido por Daniela, também prefere imagens a falas. Começa com um garoto negro, morador de uma favela. Ele pega um estojo grande, enfia debaixo do braço e deixa o seu barraco. Vai descendo o morro, toma um ônibus, um trem, cochila, outro ônibus. Outros passageiros se incomodam com a sua presença, olham torto para a caixa que carrega. A Melodia Sentimental, de Heitor Villa-Lobos, começa a ser tocada e o plano vai se abrindo: o estojo guardava um clarinete, o menino faz parte de um orquestra. "Todos os filmetes apresentam uma linguagem poética, alguns relatam fatos, outros trazem propostas. Tratam de valorizar aspectos da Declaração, que é propositiva e não condenatória. Ela diz: ?O homem deve ser respeitado, tem direito à alimentação, à educação, à cultura?, ou seja, é uma coisa afirmativa e, nesse sentido, os filmetes pretendem expressar isso", diz Danilo. Após a única exibição no cinema hoje, os 22 curtas, que foram orçados numa média de US$ 40 mil, serão mostrados no SescTV e na TV Cultura, além de serem fragmentados e inseridos também de forma independente ao longo da programação. Serviço Histórias de Direitos Humanos. CineSesc (320 lug.). Rua Augusta, 2.075, telefone 3087-0500. Hoje, às 20h30

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