Histórias infernais do heavy metal brasileiro

A ferro e fogo, ex-guitarrista da banda Santuário quer lançar até o final do ano longa sobre a cena que cresceu nos porões e alcançou o mundo com o Sepultura

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Por Marco Bezzi
Atualização:

Recuperar o período em que o heavy metal floresceu no País está nas mãos do ex-guitarrista do grupo santista Santuário, Ricardo "Micka" Michaelis. Proprietário da produtora Idea House, Micka, 42 anos, resolveu destinar boas horas dos seus dias para trabalhar em cima de fotos, entrevistas e DVDs que vem reunindo desde meados do ano passado. Nas salas de sua produtora, "soldados" trabalham talhando nomes como Centurias, Harppia, Sarcófago, Salário Mínimo, Viper e Dorsal Atlântica na tela do computador. Veja trechos do documentário Brasil Heavy Metal será o nome do documentário que contará a história de jovens brasileiros que decidiram agitar a cabeça e distorcer os riffs de guitarra ao máximo. "Iniciaremos com o efeito que bandas como Iron Maiden e Judas Priest fizeram na garotada daqui no início dos anos 80 e finalizaremos com o embarque do Sepultura para a Europa em 1989", conta Micka. Mais do que apenas retratar um período em que ser headbanger no Brasil (pejorativamente chamado de metaleiro) era das tarefas mais ingratas, Micka quer fazer do filme um evento multimídia. Além do documentário, um CD, um livro e um show estão sendo arquitetados pelo ex-Santuário. "Já gravei 44 entrevistas. Vou viajar a Belo Horizonte para falar da importante cena local no período e pretendo ainda entrevistar o Max Cavalera nos Estados Unidos. Tudo para tentar lançar o pacotão em outubro." No site www.brasilheavymetal.com é possível assistir a teasers com o que até agora foi capturado por Micka. Em cima de sua mesa, fitas VHS, DVDs, recortes de revistas e cartazes compõem o cenário que até então dormia tranquilamente no submundo do rock nacional. Histórias como a da banda Stress, que se autodenomina a primeira de heavy metal do Brasil. Pudera. Surgida no Pará, em 1975, o grupo gravou seu debute vinílico em 1983. Pois tão difícil como encontrar alguém que se engraçasse com aquele visual - camiseta preta, cabelo comprido e tênis branco cano alto - era achar uma gravadora para bancar um álbum. Coletâneas como a emblemática SP Metal, de 1984, - onde é difícil definir se ao fundo estão guitarras ou um enxame de abelhas -, portanto, eram a porta de entrada dos "meninos rebeldes que faziam um rock pauleira". Isso até surgir o Rock in Rio, em 1985. "Pontuarei o documentário com momentos marcantes, da ditadura militar, do encontro das bandas, das lojas e dos fabricantes de instrumentos, do Rock In Rio e do surgimento do Sepultura", explica Micka. A cereja do bolo serão histórias como a do próprio idealizador do longa. "Fomos para Medellín, em 1986, tachados da maior banda brasileira. Passamos dois meses lá, pois os contratantes sumiram e nós não tínhamos dinheiro para voltar." O elo perdido do rock brasileiro ainda guarda personagens como Walcir Chalas, dono da Woodstock, a maior loja de metal de São Paulo. Chalas se autodenomina o download da época. Dizia chegar ir à Europa até três vezes numa mesma semana para buscar encomendas. Tudo em nome do heavy metal.

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