Histórias de Amor traz a geração que não decola

Estréia de Paulo Halm na direção fala dos jovens talentos que não se realizam

PUBLICIDADE

Por Roberta Pennafort
Atualização:

Casados há um ano, Caio Blat e Maria Ribeiro já dividiram o palco no teatro, mas não gostam de vincular suas carreiras uma à do outro. Não aceitam fazer comerciais como casal, trabalham em emissoras de TV distintas - ele, na Globo; ela, na Record -, tocam seus projetos no cinema separadamente. No entanto, no ano que vem, Caio e Maria serão vistos juntos, e em crise, no filme Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos, do roteirista Paulo Halm (de A Casa da Mãe Joana, Amores Possíveis, Pequeno Dicionário Amoroso e muitos outros), em seu primeiro longa como diretor. "Eu só aceitei porque o roteiro é incrível. Não tenho esse projeto de ser ?casal telejornal?. Quanto menos as pessoas souberem da minha vida, melhor", diz Maria. Ela foi tomada pela história de Zeca e Júlia no ano passado, logo que chegou de Berlim, onde Tropa de Elite ganhara o Urso de Ouro (Maria fazia a mulher do Capitão Nascimento). Caio, que já havia lido o roteiro, foi o primeiro ator em quem Paulo Halm pensou para viver Zeca, um sujeito de 30 anos que age como adoelescente, à custa de uma herança e tenta escrever um livro que nunca termina. "Além de ser o melhor ator de sua geração, com um talento inesgotável, Caio tem a idade do personagem", justifica Halm. "O filme é sobre a geração que, apesar de ter talento, nunca decola. São escritores que escrevem e não publicam, cineastas que não filmam, compositores que não gravam..." Ele escreveu o roteiro entre 2002 e 2003, em meio a projetos de outros, mas só agora ganhou confiança para tocá-lo. Não o vê sob o rótulo de comédia romântica, apesar de ser uma história centrada num casal, com o casamento abalado pelas diferenças entre os dois - ele é melancólico, utopista, inerte e romântico; ela, resoluta, ativa, professora de belas-artes e doutoranda. A relação é abalada com a entrada em cena da linda argentina Carol (Luz Cipriota), aluna de Júlia. A personagem acaba tendo um romance com Zeca, que, por sua vez, acredita que ela também esteja se envolvendo com sua mulher. "Ele vive no mundo da imaginação. É como Bentinho de Machado de Assis. A visão dele é sempre deturpada", acredita Caio, produtor associado, que vê parentesco entre esse filme e Proibido Proibir (2006), de Jorge Durán, o qual considera o mais importante de sua vida. "O Paulo (de Proibido) poderia virar o Zeca." Caio e Maria acham que a intimidade real com Maria "dá textura ao filme". Os dois aparecem na cama, pela casa, brigando, conversando. Hoje feliz da vida, Luz, de 23 anos, que, por conta do convite, trocou Palermo, em Buenos Aires, por Ipanema, lembra que levou um susto quando leu o texto de Halm e se deparou com as cenas de nudez. "Fiquei horrorizada, achei forte. Nunca tinha feito cena de sexo, vinha de uma peça infantil... Mas achei o roteiro ótimo e vim, mesmo sem falar nem ?obrigada? em português." Histórias de Amor..., realizado com recursos do Programa Petrobrás Cultural, passa-se no centro do Rio. A maior parte das filmagens, que terminaram segunda-feira, foi num prédio dos anos 30, quase na Lapa, onde os protagonistas moram. Boêmio, quase um poeta romântico fora de seu tempo, Zeca freqüenta os bares da região, enquanto Júlia corre atrás de seu futuro. Em tempo de discussão sobre a nudez no cinema, tanto Caio quanto Maria fazem questão de se posicionar, como têm feito alguns colegas. "Pedro Cardoso (que fez um manifesto antinudez na dramaturgia) levantou uma questão importante, que é a erotização da imagem. Mas acredito que o corpo tem de servir ao personagem", opina Caio. "É muito bobo colocar o Pedro Cardoso como um idiota. Só que eu não quero entrar num time, contra ou a favor", coloca-se Maria, que, aos 33 anos, mãe de João, de 5 anos, começou a fazer ginástica para aparecer bem na telona. "Eu quero estar gata!" Está.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.