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''Há preconceito contra musicais''

Por Marilia Neustein e Doris Bicudo
Atualização:

Para o produtor e diretor Jorge Takla, esse é um gênero difícil e caro. Mas visto como "comercial, que não precisa de ajuda" No momento, Jorge Takla está mergulhado na pré-produção de dois novos musicais: Evita e O Rei e Eu. O diretor, que por pouco não foi médico ou arquiteto, acabou escolhendo o teatro como profissão e fez dos palcos brasileiro a sua paixão. Organizado e workaholic, está sempre à frente de suas produções, como um maestro se coloca à frente de uma orquestra. Filho de pai libanês e mãe brasileira, o vaidoso leonino adora de ópera a Madonna. Mas nunca escalaria a popstar para estrelar um musical: "Ela não conseguiria cantar sem playback". A conversa com a coluna aconteceu em seu confortável apartamento, nos Jardins. E é de lá que Takla se prepara para voltar à ativa, depois de "um ano sabático de oito meses". A crise afetou os musicais? Do ponto de vista do espectador não tem crise, por enquanto. Por exemplo: estou fazendo a venda dos ingressos de grupo para um espetáculo que não é meu, mas do qual eu sou parceiro, que é A Noviça Rebelde (em cartaz no Teatro Alfa) e já foram vendidos mais de 15 mil ingressos. E mais: tenho reservas até o final de agosto. Essa conta corresponde a aproximadamente 400 ingressos por dia. O que não é mau. Como funciona atualmente Lei Rouanet para captação de recursos de um musical? É uma superconfusão. A burocracia da lei mudou muito este ano e o novo formulário é muito complicado. Só com muito apoio podemos tornar o nosso trabalho acessível. Se eu quiser pagar aos atores e técnicos salários dignos no final do mês, sem falir, tenho que ter uma boa bilheteria e 100%de lotação, seis dias por semana. Sem o incentivo, teríamos que cobrar de R$ 400 a R$ 500 por ingresso. Lógico que existe uma boa vontade em Brasília, mas falta um diálogo com as pessoas que fazem teatro. Sem a lei, os espetáculos grandes seriam inviáveis. Existe preconceito com o teatro musical? Sim. Algo como "isso é muito comercial, então não precisa de patrocínio". Não é bem assim. Um espetáculo desse gênero é extremamente caro e sem patrocínio muitos não se realizariam. Eu sempre produzi. Com ou sem apoio. Corro o risco. Se a peça tem sucesso, a gente ganha. Caso contrário, perde. O aluguel de teatro é alto, os impostos são caríssimos, mas é viável. O teatro deveria se sustentar, só que a realidade não é essa. O brasileiro pegou gosto pelo musical? Sim, está sedento desse tipo de espetáculo. Como é a concorrência entre os produtores? Não tenho concorrentes. Cada um de nós tem o seu estilo e colabora com o fortalecimento do mercado, com a formação de novas plateias e isso é bom para todos. Só vem a somar. O grande diretor Flávio Rangel dizia: "Somos só 200 em teatro e não podemos brigar entre a gente." Anos depois, Antônio Fagundes me disse: "Já somos 250." Agora já posso dizer: "Somos 300." Você é produtor, captador e diretor... Uma raridade. As pessoas fazem prêt-à-porter e eu, alta costura. Prefiro produzir poucos espetáculos mas cuidar de tudo. Não consigo delegar. É um defeito, mas gosto de controlar a produção, fazer contatos com os patrocinadores, dirigir os atores, criar o cenário, acompanhar o andamento da bilheteria. Gosto do todo. É a minha vida. O que sei fazer. Como está o nível dos atores de musicais brasileiros? De alguns anos para cá, passou a existir mercado para o artista. Por isso, ele começou a estudar, pesquisar, fazer balé, aulas de canto, cuidar do corpo. Hoje podemos dizer que tem uma gama extraordinária de artistas do genêro. E também teatros com capacidade para abrigar um musical. Existe alguma nova diva despontando na TV? As pessoas se tornam divas no teatro ao vivo. São poucas as atrizes de TV que têm vontade, garra e disciplina para fazer teatro. Elas fazem só por um ou dois meses, depois largam para fazer televisão. Teatr o, para a maioria dessas estrelas, virou hobbie ou vitrine. E não profissão. Por que há tão poucos musicais no País? O "playwriting" de um musical requer muito estudo - é uma especialidade de ingleses e americanos. Aqui, os melhores musicais ainda são os do Chico Buarque. Mas todos eles são baseados em clássicos, como Gota d''Água em Medeia, de Sófocles. Você é contra ou a favor da meia entrada? Acho que ninguém é obrigado a dar meia entrada. Quando levei o espetáculo Chanel para a França, eles me disseram que, se eu quisesse, poderia dar um desconto para jovens e idosos. Mas era uma escolha. Acho importante ter uma cota, mas não ser obrigatório. Com o patrocínio já se baixa bastante o preço da entrada para viabilizar o desconto. E os próximos espetáculos? Estou envolvido com eles. Principalmente com O Rei Leão, por conta do tamanho da produção. Nesta minha volta ao batente, tenho visitado ONGs, para conhecer crianças de cinco a doze anos. Um trabalho de formação: ensinar a cantar, dançar. Dar um emprego para elas. Em princípio, estreio Evita, em fevereiro de 2010. No semestre seguinte, faço O Rei e Eu.

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