Grafite: asas do artista Gatuno fazem sucesso por todo o País

Uma das obras de Celso Campos, no Beco do Batman, ganhou o posto de mais fotografada de São Paulo

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Por Gilberto Amendola
Atualização:

Se você fizer uma pesquisa no Instagram por #asas, mais de 225 mil resultados vão aparecer na tela do seu celular. Apesar de ser uma hashtag assim tão genérica, parte considerável do que você vai ver são obras do artista Celso Campos, de 29 anos, mais conhecido como Gatuno.

Gatuno em frente a uma de suas obras na parede da Galeria Alma da Rua, localizada na rua Gonçalo Afonso, 96, no Beco do Batman, em São Paulo Foto: Daniel Teixeira/Estadão

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O grafite mais “instagramável” da cidade tem versões espalhadas pelo Brasil inteiro. Cerca de 50 asas foram produzidas pelo próprio Gatuno. Outras tantas são variações, versões ou até mesmo cópias da original – que foi feita em 21 de janeiro de 2016, na Rua Harmonia, na frente de uma loja de futons (a pedido do próprio dono da loja). A primeira asa acabou sendo fotografada por blogueiras famosas, que potencializaram a visibilidade do trabalho e iniciaram esse verdadeiro fenômeno. 

Hoje, a asa produzida por Gatuno, que ganhou o posto de mais fotografada de São Paulo, está localizada no Beco do Batman – esse museu de arte urbana a céu aberto que ocupa uma viela entre as ruas Gonçalo Afonso e Medeiros de Albuquerque, na Vila Madalena, mais especificamente na entrada da Galeria Alma da Rua. “Aos sábados, já tivemos filas de uma hora para tirar uma foto na frente dessas asas. As pessoas se colocam na frente delas e ficam procurando o melhor ângulo para a selfie ficar boa”, disse o dono da galeria, Tito Bertolucci, de 47 anos. 

Essa é a terceira asa que Gatuno pinta na frente da Alma da Rua. Normalmente, elas ficam por um ano inteiro em exposição. Desta vez, a asa está envolvida em um cenário noturno e com uma surpreendente arara-azul no meio do grafite. O material usado na obra permite que a asa fique brilhante durante a noite – detalhe que só aumentou o seu potencial “instagramável”.

Para quem tiver curiosidade, vale observar a obra com algum distanciamento. De longe, fica mais fácil perceber que a asa forma o rosto de um gato. E, acreditem, não é à toa. “Comecei a grafitar em 2010. No início, fui buscar umas referências na minha infância. Minha mãe tinha muitos gatos, eu vivia cercado por eles, então acabei pintando felinos e me transformei no Gatuno”, contou.

Fabiana Lima levou sua filha, Julia Brussolo, 8, para tirar uma foto em frente à obra de Gatuno no Beco do Batman Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Apesar de ter uma obra diversificada, Gatuno sabe que o seu hit são mesmo as asas. “É como uma música de sucesso. Não tem como escapar. Acho legal que as pessoas passem a conhecer o meu trabalho por intermédio delas”, disse. O prestígio das asas fez Gatuno receber convites de outros países, como Portugal e Chile, e também fechar trabalhos com marcas como BMW e IBM. 

Gatuno diz não se importar em ver suas asas sendo recriadas (e, às vezes, copiadas) por outros artistas. “Ao contrário, as asas são quase como um estilo. Não tem como eu me incomodar com quem faz uma asa na frente de uma loja pequena no interior de Minas. Eu só vou atrás quando vejo grandes marcas explorando essa ideia”, explicou também.

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Para aproveitar o fenômeno, a Galeria Alma da Rua, que abriga a famosa asa, vende ímãs de geladeira, camisetas, moletons, adesivos e ladrilhos tendo a obra de Gatuno como mote. “Tem gente que diz que ela já é mais fotografada do que diversos pontos turísticos da cidade, como o Obelisco ou o Masp”, falou Tito Bertolucci.

Gatuno (de jaqueta preta) ao lado do galerista Tito Bertolucci Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Para além das asas, a Galeria Alma da Rua, no Beco do Batman, é responsável por dar espaço a artistas que nunca tiveram oportunidade de ver suas obras expostas. “É na rua que vamos buscar quem a gente expõe aqui. Ninguém expõe na Galeria Alma da Rua sem antes ter um trabalho na rua”, afirmou. 

Mesmo que muitas pessoas que procuram apenas uma boa foto no Instagram não saibam o nome do artista por trás da obra, as asas do Gatuno têm o mérito inequívoco de aproximar o público de um trabalho artístico – levando mais gente para perto (e até para dentro) de uma galeria especializada em arte de rua. Não é pouca coisa. E já que estamos falando de “asas”, por que não chamar de milagre? 

Os amigos Leonardo Degrande e os amigos Ahmed Taher e Livia Riofrio posam em frente à obra de Gatuno Foto: Daniel Teixeira/Estadão
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