''GM do Brasil tem muita liberdade''

Enquanto a matriz, nos EUA, luta pela sobrevivência, o presidente da GM daqui, Jaime Ardila, avisa: no País a empresa está segura e não sofre os problemas de lá

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Por Redação
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A General Motors vive, nos Estados Unidos, seu inferno astral. Semana passada, circulavam dúvidas quanto à capacidade de a montadora continuar operando por lá, mesmo depois de Barack Obama ter dado 60 dias para apresentação de novo projeto de viabilização. A situação no Brasil, no entanto, é diferente. A operação local, como as de outras subsidiárias, é financeiramente independente. A Deloitte & Touche fez uma auditoria ampla na contabilidade da montadora e deu parecer favorável à sustentabilidade da filial brasileira. "Legalmente - e temos pareceres jurídicos dizendo isto - as leis brasileiras não permitem que uma concordata lá fora tenha impacto por aqui. Estamos absolutamente tranquilos", contou à coluna o colombiano Jaime Ardila, presidente da empresa no Brasil. Aqui vão os principais trechos da entrevista: Barack Obama forçou mudanças na GM americana. O que o senhor achou disso? Concordo com as recomendações do presidente. É preciso gerar mais caixa, reduzir o nível das dívidas, acelerar a reestruturação operativa e buscar carros com maior eficiência. Aliás, neste último quesito, o Brasil pode ajudar em termos tecnológicos, com nossos carros menores. Mas trocar um dirigente, Rick Wagoner, por outro, Fritz Henderson, que trabalhou a vida inteira na GM, muda algo? A substituição foi simbólica e política, na busca pelo apoio do público. Obama deixou claro que ajudará a GM. Se a empresa entrar em recuperação judicial, como ficam vocês no Brasil? A Deloitte & Touche acaba de fazer uma auditoria também nas contas da GM Brasil. Nossa posição é sólida. Não creio em impactos maiores. E se a GM de lá resolver vender vocês aqui? (risos). Ela não vai fazer isto. Nos planos da GM estão à venda as marcas Saab, Hummer e Saturn. Existem planos para abrir outra fabrica da GM no Rio Grande do Sul? Nada a comentar, não podemos comentar. A GM investe com recursos próprios? Normalmente, sim. Mas agora temos também projetos com o BNDES. Estão conversando com eles? Estamos, provavelmente já poderemos falar sobre coisas concretas no segundo semestre. Qual o grau de liberdade que a GM Brasil tem frente à matriz americana? Hoje nós temos muita liberdade financeira, no dia a dia do negócio, em relação aos grandes recursos, ao capital. Mas não temos isso no desenvolvimento de produtos. Por quê? Para não haver sobreposição de trabalhos, a área é coordenada pela matriz. A GM se parece muito ao governo de um país. A burocracia é gigante. O senhor esteve trabalhando no mundo inteiro. O brasileiro vê o carro de maneira diferente de outros? Não há muita diferença. O consumidor brasileiro gosta de carro como produto de transporte, uma necessidade. É a segunda necessidade mais importante, depois da moradia. Mas na hora de montar o carro ou definir acessórios, por exemplo? Os brasileiros gostam muito de motores, de rendimento e de tecnologia. Nos Estados Unidos, as pessoas estão mais preocupadas com o interior do carro, com o acabamento. Ah, lembrei: os brasileiros gostam também das rodas. Este tipo de detalhe não preocupa tanto em outros lugares. Os problemas das montadoras americanas começaram com os japoneses invadindo os EUA, muitos anos atrás. Porque os EUA nunca invadiram o Japão? É muito difícil invadir o Japão. Eles têm muitas barreiras protecionistas, barreiras culturais, o preço da terra. São todos organizados para que só as companhias japonesas fiquem. Mercado japonês fala japonês. E é quase impossível comprar terrenos para ter concessionárias. Na China vocês entraram... É um modelo diferente. A China fez parcerias com empresas de fora. Hoje a GM tem 50% do mercado local. Lá somos líderes. Eles não estão sentindo a crise? China e Brasil são os países que estão se defendendo melhor. Eles têm uma coisa muito parecida com o Brasil: diminuíram o imposto de renda dos carros e o impacto foi o mesmo daqui. As vendas se recuperaram, abriram créditos para os consumidores. Desde janeiro, fevereiro, pela primeira vez na história o mercado chinês foi maior que o americano. O que você acha da política automotiva brasileira? Ela montou uma boa proteção para a indústria, criou tecnologia e garante empregos. Tem também grandes investimentos. E mais. O desenvolvimento tecnológico faz do Brasil, hoje, um dos cinco principais centros do mundo. E desenvolvimento significa design, engenharia. Na América Latina há países que cobram menos imposto que o Brasil? Sim, Peru e Chile são mercados totalmente abertos. E o México? Tem menos imposto que o Brasil, muito menos. O Brasil tem os impostos mais altos na hora de vender. Quanto por cento das vendas da GM mundial são fruto de vendas no Brasil? O maior mercado está nos EUA. Mas para nós, o Brasil é o terceiro mais importante. O primeiro são os EUA, em segundo vem a China. Qual a fatia que a GM tem do mercado americano? Tem 21%, é líder. Líder na China e nos EUA. E quando será líder no Brasil? É uma coisa curiosa, essa ânsia não existe só no setor automotivo, mas em qualquer outro setor. Todos buscam a liderança. Eu acho que prestígio tem que vir antes de ser a maior no mercado. É o prestígio que transmite confiança aos consumidores. É mais importante ser o melhor, não o maior. Direto Da Fonte Sonia Racy Colaboração Doris Bicudo doris.bicudo@grupoestado.com.br Gabriel Manzano Filho gabriel.manzanofilho@grupoestado.com.br Pedro Venceslau pedro.venceslau@grupoestado.com.br Marília Neustein marilia.neustein@grupoestado.com.br Produção Elaine Friedenreich

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