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Garotas enlouquecem herói e platéia

Pin-ups vestem-se e despem-se velozmente e esquentam a tela em controversa e violenta adaptação dos quadrinhos de Will Eisner

Por Jotabê Medeiros
Atualização:

Estamos nos anos 40, tempo em que os homens usam chapéu e paletó e gravata, os táxis são sedãs elegantes e as mulheres têm cinturas que se podem circundar usando apenas as duas mãos. Nessa época, as pessoas de bem só têm um herói para defendê-las dos meliantes e dos vigaristas: o Spirit, misterioso vigilante de máscara que corre pelos telhados de Central City combatendo a perfídia. Veja o trailer Pois bem: aquele herói de um tempo esquecido, criado pelo genial cartunista americano Will Eisner (1917-2005), está de volta. Pelas mãos do maior ídolo dos quadrinhos atuais, Frank Miller (criador de O Cavaleiro das Trevas, Ronin, Elektra e um sem-número de clássicos), e com um elenco estelar - as estupefacientes Scarlett Johansson (como a vilã Silken Floss) e Eva Mendes (como a ladra sexy Sand Saref) e o experiente Samuel L. Jackson (como o vilão Octopus) - o destemido Spirit salta de novo sobre os telhados do mundo. Na pele do Spirit, está o relativamente desconhecido Gabriel Macht, que é loiro e tem olhos castanhos, mas na tela virou simplesmente a perfeita encarnação do mascarado dos comics. É sua primeira vez do personagem de Eisner na telona (já houve uma transposição do personagem para a TV, em 1987, mas foi um fiasco). Spirit é um filme-gibi. Estréia mundialmente no dia 6 de fevereiro, mas na semana passada, em Nova York, foi mostrado pela primeira vez num cinema da 5ª Avenida. No sábado, o elenco principal, o diretor Miller e a produtora Deborah Del Prete reuniram-se no hotel Waldorf-Astoria para falar à imprensa. O Estado entrevistou todo mundo: Scarlett, Eva, Gabriel Macht, Frank Miller, Deborah e Samuel L. Jackson. Em poucas palavras, eis como foi o encontro: Frank Miller não gostou do tom excessivamente crítico das perguntas, uma delas sobre a "glorificação da violência", outra sobre ele ter se tornado "excessivamente auto-referente". Abandonou as entrevistas pela metade. "Não acredito em glorificar a violência, mas em explicar suas origens", disse. Miller foi curto e grosso quando indagado a respeito da ausência de um personagem importante, o auxiliar negro Ebony, que ajuda o Spirit em sua cruzada contra o crime. "Não acho que Ebony fosse controverso. Acho que era ofensivo. Will Eisner era um gênio, mas criou Ebony num dia ruim", disse. "Eu poderia tê-lo mantido, transformando-o em um clichê de hip-hop, mas não valeria a pena." Ele disse que escolheu o ator que encarna o Spirit, Gabriel Macht, após inúmeros testes. "Todos pareciam garotos no papel. Ele era um homem, falava como um homem. Foi por isso que o escolhemos", explicou o diretor. Ele afirmou que estão previstas duas seqüências para a história, e que Macht assinou contrato para fazer ambas. "Nunca pensei em fazer desse filme uma homenagem a Eisner. Pensei em entrar no meu próprio mundo profundamente", afirmou Miller. "É a obra de Will Eisner interpretada por Frank Miller", complementou a produtora Deborah Del Prete, que está negociando com Miller a filmagem de uma de suas obras-primas, a ficção científica Ronin, que mistura o Japão feudal com alta tecnologia. Já o veterano Samuel L. Jackson (mais de 50 filmes desde que surgiu, em 1991, com A Febre da Selva, de Spike Lee) disse que não se importa de interpretar um personagem que, no gibi, não tem rosto (nos quadrinhos, só aparecem as luvas, o chapéu ou os braços de Octopus). Isso não poderia chatear os fãs dos quadrinhos? "Os fãs do gibi antigo ou são da minha idade ou estão mortos", afirmou Jackson. Samuel L. Jackson completa 60 anos no dia 21. Gabriel Macht, o Spirit, é um galã que está com tudo e não está prosa. Eva Mendes, ao ser indagada sobre qual foi a inspiração para compor um personagem tão sexy em cena, não se conteve: "Olhe para ele", disse, apontando para Macht. "Ele é um gato. Ele te inspira. Você se imagina a namorada dele e todo o resto vem naturalmente", divertiu-se. Ambos são casados. As garotas são de fato um show à parte no filme. É um desfile de pin-ups como não se via desde... Sin City - ironicamente, também um filme de Miller. Está cheio de cenas de virar a cabeça de onanistas de todos os quadrantes. "Vivemos num mundo pós-feminista, onde as mulheres voltaram a se divertir sendo mulheres", diz Miller. A violência, que era ingênua e sugerida em Will Eisner, explode com Frank Miller. O confronto final entre Octopus e Spirit é Afeganistão puro. "Eu costumo dividir a obra de Eisner em duas partes: os anos 1940 e 1950, quando ele fez um trabalho mais romântico, e a partir dos anos 1970, quando se tornou mais naturalista. Eu ainda sou um romântico", disse Frank Miller, explicando por que prefere The Spirit a obras como Fagin, o Judeu, O Cortiço e Outras Histórias de Nova York e A Grande Cidade. O diretor, maior nome dos quadrinhos americanos na atualidade, não faz mais quadrinhos há um bom tempo e diz que agora foi tomado pelo germe do cinema e dificilmente voltará a fazê-los no futuro. Mas desenhou o filme cena a cena, e ainda faz uma pontinha. "Diferentemente de Hitchcock, eu morro em cena", ele brinca. "Não posso dizer que seja divertido morrer e ver minha cabeça sendo usada como arma." Além de Scarlett Johansson e Eva Mendes, tem ainda um balé mortal da estonteante Paz Vega, a doçura sussurrante de Sarah Paulson (como Ellen Dolan, a namorada do Spirit) e o beijo fatal de Jaime King (Lorelei), que quer arrastar o herói para o fundão. Frank Miller diz que a Central City do filme (que mistura cenas reais com animação) é um lugar bem determinado de Nova York, a região do West Village entre a Houston Street e a Jane Street. Para o papel do comissário Dolan, foi escolhido o ator Dan Lauria. Os assistentes de Octopus são clones idiotizados, todos interpretados pelo mesmo ator, Louis Lombardi.

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