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Frustração na reta final da mostra

Série de falhas provoca o cancelamento de Rock?N?Roll, que estrearia hoje

Por Beth Néspoli
Atualização:

ga à reta final o Festival de Curitiba, cuja programação termina no domingo com um cancelamento de última hora. Entre as peças de encerramento estaria Rock?N?Roll, que faria sua estreia nacional na mostra e atraíra forte expectativa. Baseada em texto de Tom Stoppard sobre o socialismo no Leste Europeu, a ação se passa entre 1968 e 1990, simultaneamente em Praga e em Cambridge. Veja blog especial sobre o festival Não é um musical e o título faz referência à banda The Plastic People of the Universe, que se tornou símbolo de resistência ao autoritarismo após a invasão dos soviéticos à República Checa em 1968, o fim da chamada Primavera de Praga. Na trilha, Pink Floyd, The Doors, Rolling Stones, Bob Dylan e Syd Barret, entre outros. A encenação da Royal Shakespeare Company dessa peça seguiu para Nova York, onde foi indicada para quatro prêmios Tony em 2008. Tom Stoppard esteve em julho ao Brasil para a feira literária de Paraty, onde fez a conferência Shakespeare, Utopia e Rock?N?Roll. Dirigida por Felipe Vidal e Tato Consorti, a montagem brasileira tem dez atores, Otávio Augusto, Thiago Fragoso e Gisele Fróes entre eles. "Tratamento desrespeitoso", foi como a produção definiu a causa do cancelamento. Em se tratando de uma estreia, havia sido pedido um tempo maior para ocupar o palco, ensaiar antes da apresentação, montar o cenário. "Na madrugada do dia 25 para 26 ao chegarmos ao Teatro Positivo, com 12 integrantes de nossa equipe, fomos informados que o teatro sequer sabia de nossa montagem." Leandro Knopfholz, diretor do festival, assume a responsabilidade pelo episódio. "Um avião nunca cai por um só erro e nesse caso ocorreu uma série de problemas de comunicação. Foi falha grave, assumo. Há duas noites não durmo, fiz tudo para reverter a situação, ofereci um adiamento da estreia, mas já não havia mais serenidade para uma decisão racional. As falhas já tinham provocado um exacerbamento emocional na equipe, perfeitamente compreensível." Ao chegar ao teatro, a produção de Rock?N?Roll encontrara o cenário de Maria Stuart, espetáculo acompanhado pelo Estado justamente na noite do dia 25, que faria mais uma sessão no dia 26. Antonio Gilberto, diretor dessa montagem que também vem do Rio e tem no elenco Júlia Lemmertz (Maria Stuart) e Clarice Niskier (Rainha Elizabeth) estava muito preocupado com o efeito da dimensão desse teatro de 2,4 mil lugares sobre a fruição da peça, que está em cartaz no Rio, de quarta a domingo, numa sala de 190 lugares. A julgar pela noite de estreia, a encenação se ressentiu menos do que se esperava da dimensão do espaço e cumpriu o que mais prometia, a valorização das palavras e das interpretações. O público permaneceu em silêncio, visivelmente preso ao texto, uma verdadeira lição de dramaturgia. Schiller não faz discurso, é na ação dramática que ele realiza uma incrível radiografia do poder, na qual as grandes questões, como a intolerância religiosa, aparecem intrincadas e inseparáveis disputas de poder e das vaidades e mesquinharias humanas. Um dirigente, de qualquer época, é antes de tudo um ser humano dividido entre as responsabilidade com os rumos de seu país, obrigado a tomar decisões que afetam a vida de todos, e muitas vezes o faz pressionado por interesses de pequenos grupos, e até sentimentos individuais, movido por vaidade, e influenciado por intrigas palacianas menores. Tudo isso chega ao público nessa montagem que tem muitos méritos, mas talvez o principal seja a empreitada de levar à cena, numa peça de três horas, a tradução quase na íntegra de Manuel Bandeira, toda em versos livres e linguagem nada cotidiana. A julgar pelo silêncio atento - não se ouviu um toque de celular ou conversas paralelas - e pelo aplauso final caloroso, e isso à 1 hora da manhã, pois a sessão começou com 40 minutos de atraso, Maria Stuart tocou o público. Curiosamente, não foi a dimensão do teatro, mas o horário de início, 21 horas, para uma peça tão longa, o maior obstáculo a ser vencido. Em plena quarta-feira, muitos abandonaram a peça premidos pelo tempo, algo que a reportagem apurou no intervalo. "Pedimos muito à organização do festival que nosso espetáculo tivesse início em horário diferenciado, mas não fomos atendidos", disse o produtor Celso Lemos. "O teatro é distante e as pessoas não conseguiriam chegar lá a tempo", argumentou Leandro Knopfholz ao Estado sobre tal negativa. A repórter viajou a convite da organização do festival

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