Frederica reafirma fama de excelente cantora e atriz

Artista inteligente, ela mantém a forma simples e espontânea de se comunicar

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Por Lauro Machado Coelho
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Um panorama temático da canção americana, francesa, alemã: Rosas, Paris, Religião, Crianças, Damas Misteriosas, Moi - um programa inteligente, montado por uma cantora inteligente, e com extraordinária capacidade de se comunicar com o público de maneira simples e espontânea. Aos 38 anos de uma carreira que se iniciou em 1970, em Nova York, com o segundo geninho da Flauta Mágica que, dois anos depois, a revelou como Cherubino em Paris, Frederica von Stade está com a voz virtualmente intacta. E com a capacidade expressiva amadurecida pela experiência de uma grande cantora que sempre foi também excelente atriz. Em seu recital de quarta-feira, na Sala São Paulo, von Stade passou da sensualidade da Erwachte Rose de Richard Strauss às linhas angulosas e angustiadas do Noël des Enfants qui n?ont plus de Maison - a última canção escrita por Debussy, sob o impacto da 1ª Guerra - com a desenvoltura de quem tem perfeito senso de estilo. De quem sabe construir uma mélodie de Gabriel Fauré (Les Roses d?Ispahan) de maneira nitidamente diferente daquela como conta a maliciosa história de Nicolette, a personagem de Maurice Ravel. Mas não se trata apenas de inteligência posta a serviço da musicalidade. A técnica impecável de von Stade faz a voz correr de maneira impressionante: os pianíssimos impalpáveis da delicada Prière pour Paix, de Francis Poulenc, ressoaram, dentro da sala imensa, com a mesma clareza dos exuberantes acentos de dança de I Am Easily Assimilated, a hilariante ária da Velha no Candide de Bernstein. De maneira despreconceituosa, a artista transforma La Vie en Rose, a canção de Edith Piaf, numa bela canção de concerto. E cria um momento de intensa poesia com Send in the Clowns, do musical A Little Night Music, que Stephen Sondheim baseou em Sorrisos de uma Noite de Verão, a maravilhosa comédia de Ingmar Bergman. Há tempos Frederica von Stade vem colaborando com o compositor Jake Heggie, acompanhador elegante que tem, com ela, visível interação. Ela homenageou essa parceria interpretando Don?t Say a Word, a ária de Mrs. De Rocher, a personagem que ela criou na impressionante ópera Dead Man Walking de Heggie: as últimas palavras da mãe ao filho que vai ser executado na câmara de gás. E como extra, ela faz um de seus cavalos-de-batalha: Je Suis Grise, a ária de bebedeira de uma opereta de Jacques Offenbach. Nela, Flicka demonstra, como se ainda fosse preciso, que é uma atriz de mão cheia.

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