Franceses ensinam: as aparências enganam

Meias Verdades, no Rio, é mostra que discute limites entre realidade e ficção

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Por Roberta Pennafort
Atualização:

Nas fotografias nas paredes, as mulheres estão com a aparência de manequins. No vídeo, uma viagem pelos Estados Unidos, narrada por uma das viajantes - terá sido real ou inventada? Em instalações videográficas, diversas histórias são contadas supostamente por pessoas diferentes, mas... no fim, parece até que se trata de um mesmo homem. O que é ficção? O que é realidade? A questão está no ar em Meias Verdades, exposição a ser aberta ao público amanhã no Oi Futuro, no Rio. Parte do extenso calendário cultural do Ano da França no Brasil, a mostra, que ficará em cartaz até 28 de junho, traz à cidade trabalhos de Sophie Calle, Pierrick Sorin e Valérie Belin, "os três maiores artistas contemporâneos da França atualmente", diz Adon Peres, curador, com Ligia Canongia. "A questão (do que é realidade e ficção) é cada vez mais frequente nas artes visuais, e também na literatura. O curioso é que na montagem da exposição, os próprios funcionários do Oi Futuro já erraram na hora de identificar as mulheres e os manequins." Peres se refere às fotos de Valérie Belin, manipuladas digitalmente de modo a aproximar as imagens de jovens modelos a rostos inumanos, todos perfeitos, como avatares. Capazes de "condensar o silêncio, como se as coisas e seres ali estampados prescindissem do discurso, desconfiassem da palavra e, mais, bastassem a si mesmas com imagens", como descreve a curadora, as obras de Valérie - uma artista em ascensão, com obras presentes no Museu Contemporâneo da Fotografia de Paris - ocuparão o primeiro andar do Oi Futuro. "O que eu quero que as pessoas vejam é o tratamento pictórico da imagem, de modo que se perguntem se estão vendo uma foto ou uma pintura hiper-realista", explica Valérie, que admira o trabalho dos colegas franceses e também de artistas brasileiros, como Ernesto Neto, Cildo Meireles e Vik Muniz. "São muitas questões que quero levantar: O que é a vida, hoje? Como ela é moldada pelas metamorfoses e forças de destruição?" O centro cultural é bem apropriado para a mostra, por tratar de tecnologia e arte em seus espaços. Em seu segundo andar, estão dois vídeos de Sorin. Retrato de Cidade mostra embarcações que navegam por um rio tendo como tripulantes personagens interpretados pelo artista. Em Projetos de Artistas, o videomaker, que se utiliza do humor em seus trabalhos e já veio para a Bienal Internacional de São Paulo, também assume distintos papéis: travestido de artistas, zomba deles. Sophie Calle exibirá seu filme Double Blind, de 1992, no terceiro andar. Nele, ela apresenta aos espectadores o norte-americano Gregory Shepard como seu companheiro de um ano. Os dois filmam uma viagem que fazem juntos, de cadillac, de Nova York à Califórnia, que é narrada pela artista. Mas não é possível saber se aquilo aconteceu mesmo ou não. Destaque na Bienal de Veneza, em 2007, Sophie, também escritora, é presença confirmada na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), em julho. Ela foi o ponto de partida de Meias Verdades. "Diante da obra, sofremos um duplo impacto, em si contraditório: ou acreditamos verdadeiramente no que vemos e no que lemos ou enveredamos pela desconfiança de que os textos mentem, ou inventam e, nesse caso, não sabemos exatamente o que fazer com os ?documentos? fotográficos", avalia Ligia Canongia. É ver para crer - e desconfiar. Contemporâneos SOPHIE CALLE: Celebrada artista francesa, nascida em 1953, Sophie Calle trabalha nos campos da fotografia, da instalação e da arte conceitual. Em julho, sua individual Prenez Soin de Vous chegará ao Brasil: será apresentada no Sesc Pompeia, em São Paulo, e, depois, a partir de setembro, no MAM da Bahia. VALÉRIE BELIN: Artista nascida em 1964, Valérie se dedica ao gênero fotográfico. PIERRICK SORIN: Filmes de curta duração e videoinstalações são os terrenos explorados por este profissional multimídia, nascido em 1960.

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