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Fotografia como disfarce nos voos de Anna Bella Geiger

Mostra na Caixa Cultural reúne trabalhos em que a artista se utiliza do gênero

Por Camila Molina
Atualização:

Dentro da obra plural de Anna Bella Geiger, a fotografia entrou em sua criação em 1968 não por meio do que seria a ação propriamente de uma fotógrafa, mas pelo uso de imagens diversas, coletadas, pedidas, posadas, que se transformaram em mais um elemento de seus trabalhos. É por isso que Anna Bella rejeita a palavra "apropriação" para tratar da imagem fotográfica em sua produção artística: para ela, não se trata de ter se valido de uma atitude duchampiana ou dadaísta - trazer para dentro de sua obra "o objeto do entorno, da indústria", mas de pensar e usar a fotografia como mais uma informação ou elemento "na repercussão da ação da arte", como diz a artista, de 76 anos. Sendo assim, simples e direto é o título da exposição que ela inaugura hoje na Caixa Cultural: Anna Bella Geiger - Fotografia Além da Fotografia, reunindo cerca de 60 obras realizadas entre a década de 1970 e 2008. A mostra, já apresentada no Rio, cidade natal da artista e onde ela vive, tem curadoria de Adolfo Montejo Navas. Anna Bella já fazia vídeos com super-8 e há tempos, desenho, gravura e pintura quando a fotografia foi incorporada pelo atrativo da técnica do alto contraste, por meio de serigrafias. Mas a exposição começa, na verdade, com obras da década de 1970, gravuras que se tornam obras mistas, ou seja, que misturam o gênero gráfico à imagem fotográfica, no caso, de montanhas, feitas pelo americano Anselm Adams (1902- 1984). A partir de então, as imagens se fundem em objetos, gravuras, assemblages, numa pesquisa instigante, conceitual, poética e política. Na série Polaridades, também dos anos 70, são colocadas na gravura fotos da Lua. Delas se estabelecem a questão dos territórios, da topografia, aprofundando depois para o terreno da cartografia - e os mapas se tornaram, por assim dizer, uma marca preciosa na pesquisa dessa que é um dos nomes de peso da arte brasileira. "Trouxe essas imagens em um momento de exceção no Brasil, ditatorial, mas não era um trabalho panfletário", diz Anna Bella, reforçando que o tema principal era tratar a periferia e o centro. Por isso a artista ainda prefere afirmar que com a fotografia, na verdade, as coisas podem ficar "até mais disfarçadas" do que explícitas, apesar de a imagem ser tratada sempre como ícone ou referência - é preciso fazer o exercício de ir fundo nas questões. Em Mona Lisa com Favela da Santo Amaro (2003), a própria Anna Bela posa como a Gioconda tendo a paisagem da pobreza ao fundo. Só em Brasil Nativo/Brasil Alienígena (1977) tudo está tão à vista, até de forma "paródica sim" - a artista é colocada ao lado do índio, falando de identificação, falando "da falta de direito do cidadão". Serviço Anna Bella Geiger. Caixa Cultural. Praça da Sé, 111, telefone 3321-4400. 9h/ 21h (fecha 2.ª). Grátis. Até 9/8. Abertura hoje, às 11 horas

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