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''Foi um brilho de vida entre jornais acadêmicos''

Em artigo publicado um mês antes de morrer, Paulo Francis deu sua versão

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Por Redação
Atualização:

Paulo Francis (1930-1997)participou da primeira geração do Pasquim e, como muitos de seus colegas, também foi preso pelo regime militar. "Francis foi um dos fenômenos mais interessantes do jornal: um intelectual cujo rompimento com a sisudez e a linguagem engomada do jornalismo político e cultural abriu-lhe as portas para a popularidade", escreveu Sérgio Augusto, em 1999. Um mês antes de morrer, Francis escreveu sobre o semanário na edição do dia 9 de janeiro de 1997 do Estado. Veja a íntegra a seguir: "O jornal foi Jaguar, Millôr, Ziraldo, Ivan Lessa, Maciel, Henfil, Fortuna, Sérgio Augusto e eu. Havia colaboradores como Cláudio, Reddy, Flávio Rangel, em suma, não vou ser exaustivo, e os não citados que me relevem a Alzheimer incipiente. Havia, claro, outros que escreveram ou desenharam esporadicamente, alguns solidários, quando, por exemplo, a maioria de nós esteve presa dois meses, em 1970. O que O Pasquim deu de melhor foi Millôr, Jaguar, Ziraldo e Ivan Lessa. Sou frequentemente importunado por opiniões sobre O Pasquim. Vozes doces como a do Circunflexo, pretextando respeito, me telefonam, escrevem cartas e, maldita invenção, me mandam fax, perguntando. Escrevem ?teses?, etc. Minha boca é um túmulo. Chega de pretender ser ?igual?. Talvez algum dia se escreva a história real do acidente, porque foi isso, de O Pasquim. O resumo da ópera é que depois do Ato 5, de censura total, se fez o jornal, dando a volta por cima do ostensivamente político, proibido - que, de resto, é sempre chatíssimo - com uma liberdade de linguagem até então inexistente na imprensa brasileira e com um gosto da vida carioca dos bares, de que nunca houve igual, tipo Flag, e da liberdade sexual na Zona Sul do Rio, em vigor desde os anos 40, que só chegou ao resto do Brasil por volta dos anos 70. Nas entrevistas do jornal, se embebedava o entrevistado, para que soltasse o leite, que jorrava... As entrevistas de hoje, quase sempre, são um levantar-de-bola ao entrevistado. O Pasquim chegou a dar lucro em venda nas bancas. A ditadura militar, somada a velhas birras que já relatei, matou o jornal, que foi um brilho de vida na nossa imprensa acadêmica, empolada, predizível, chata, meu deus, como é chata."

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