PUBLICIDADE

Fim dos Tempos busca a segunda chance

M. Night Shyamalan acredita que seu filme, que não foi bem no cinema, precisa da versão digital para ser mais bem digerido

Por Elaine Guerini e FILADÉLFIA
Atualização:

M. Night Shyamalan tem uma resposta na ponta da língua para explicar por que Fim dos Tempos não alcançou a bilheteria de outras produções apocalípticas recentes, como Eu Sou a Lenda. Enquanto o filme estrelado por Will Smith arrecadou US$ 584 milhões ao redor do mundo, o último trabalho do cineasta indiano faturou US$ 163 milhões. "Fizemos praticamente o mesmo filme, em que a raça humana corre o risco de ser exterminada. Só que Eu Sou a Lenda elimina o problema no final, fazendo Smith encontrar a solução para acabar com as criaturas que nos ameaçam. Shyamalan, no entanto, se recusou a dar essa "satisfação emocional à platéia", por mais que os executivos da Fox tenham insistido nela. Preferiu investir no filão dos fenômenos inexplicáveis, deixando a sorte dos humanos nas mãos da natureza. "Sei que não é a história que o espectador quer ouvir. Mas é a história na qual acredito. Fazemos parte de algo muito maior e gosto de respeitar isso", disse o diretor ao Estado, no lançamento do DVD de Fim dos Tempos, na Filadélfia, cidade onde cresceu depois que os pais mudaram-se para os Estados Unidos. Para Shyamalan, a trama do casal (Mark Whalberg e Zooey Deschanel) que foge da cidade grande, quando uma toxina presente no ar induz as pessoas ao suicídio, arrecadará pelo menos mais US$ 150 milhões com locação e vendas do DVD. Uma renda mais que suficiente para mantê-lo entre os cineastas mais bem pagos de Hollywood. Para escrever o roteiro, produzir e dirigir, ele ganha de US$ 10 milhões a US$ 12 milhões. "O DVD é muito importante na carreira de um filme que precisa de mais tempo para ser digerido e apreciado, como Fim dos Tempos. É uma loucura essa obrigatoriedade de um título estourar nas bilheterias logo no primeiro fim de semana. Do contrário, ele cai fora", comentou o diretor, que busca "enriquecer a experiência do filme" nos seus DVDs. Fim dos Tempos chegou às locadoras do Brasil recentemente. "Gosto de imaginar o que Alfred Hitchcock (uma de suas maiores influências) faria, se tivesse o recurso do DVD nas mãos. Aposto que ele não tiraria a magia revelando como os efeitos foram criados." É exatamente por isso que Shyamalan se concentra "na atmosfera, no contexto e da intenção de algumas cenas''". "É sempre melhor visitar um museu com um guia a tiracolo, revelando as condições em que a obra foi realizada." Seus filmes costumam retratar os seus medos. Em 1999, quando dirigia O Sexto Sentido, o que mais o incomodava era a idéia de "não conseguir fazer um bom trabalho e não conciliar o trabalho com a vida familiar". Enquanto rodava Corpo Fechado (2000), Shyamalan sentia o peso de tentar "fazer algo extraordinário" com a sua vida. Na filmagem de Sinais (2002), ele se debatia com a noção de que "nada acontece por acaso". Já os três últimos filmes, A Vila (2004), A Dama na Água (2006) e Fim dos Tempos, refletem a sua visão da sociedade atual, "onde o homem tem a ilusão de que pode tudo". Embora a renda de Fim dos Tempos não esteja no patamar de hits como O Sexto Sentido (US$ 673 milhões) ou Sinais (US$ 408 milhões), ela foi bastante superior à de A Dama na Água, o filme de Shyamalan que menos arrecadou até hoje, somando US$ 73 milhões. "Foi o único que não deu lucro, só conseguindo se pagar. Ainda assim, não posso reclamar. Ao fazer a média das bilheterias dos meus seis últimos filmes, o valor ainda é impressionante: de US$ 300 milhões."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.