''Filmes não estimulam imaginação''

Christian Bale fala de O Exterminador do Futuro: A Salvação, critica as máquinas e diz que a técnica é fundamental para o ator

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Por Luiz Carlos Merten e PARIS
Atualização:

Christian Bale entra na suíte do Plaza Athenée, o mais exclusivo hotel da capital francesa. Talvez por estar ali, ele se veste integralmente de preto. Calça, sapatos, meias, uma elegante camisa de tecido fosco, entreaberta no peito. Está de bom humor. São quatro os jornalistas, três de diferentes partes da Europa e só o repórter do Estado encaixado nessa rodada destinada, basicamente, à imprensa europeia. A entrevista ocorre na volta do Festival de Cannes. Christian Bale está ali para falar sobre O Exterminador do Futuro: A Salvação. Na França, é Renaissance (Renascimento). O título é perfeito - a proposta do diretor McG é ambiciosa. Ele foi contratado para dar um novo rumo (fazer renascer?) a série iniciada por James Cameron. Trailer de O Exterminador do Futuro "Ele gostou da gente", observa no final a jornalista austríaca, que já o entrevistou. Os últimos tempos têm sido estressantes para Bale. Aproveitando o lançamento de O Exterminador 4, ele está na capa das principais revistas norte-americanas de cultura e lazer, e sempre com a advertência. Christian Bale é um homem de lua. Quando, ou se, irritado, revida. Pois ele não bateu na própria mãe? Bale não foge à pergunta. "Estava estressado, não estou me desculpando. Quero dizer que sou humano, não sou o herói que interpreto na tela." Com o talentoso diretor Christopher Nolan, ele conseguiu renovar a franquia do Homem-Morcego, e o seu segundo Batman - O Cavaleiro das Trevas -, revela brilho e inteligência incomparáveis. A Salvação vai conseguir renovar com a mesma intensidade a franquia do Terminator? Nos EUA, as rendas do primeiro final de semana foram as esperadas - mas o filme ficou abaixo da bilheteria de Uma Noite no Museu 2. O diretor McG minimiza o significado - "A comédia é para toda a família; nosso filme não é exatamente de ação; é de guerra. Considerando-se que as pessoas estão saturadas de guerra na realidade, acho que fomos muito bem." Justamente o tema da guerra é um bom pretexto para se começar a falar de O Exterminador do Futuro: A Salvação. McG volta à vertente dos dois primeiros filmes e ignora o terceiro, realizado por Jonathan Mostow. A primeira parte de A Salvação trata da guerra das máquinas prometida no fim do segundo Terminator - O Julgamento Final. A segunda parte centra-se nesse meio homem, meio máquina que vem em socorro de John Connor (Bale) e permite ao diretor discutir o que, afinal de contas, define o humano. Sam Worthington é o intérprete do papel e ele não raro rouba a cena de Bale, mas o ator, preso a uma filmagem, não participa das entrevistas. Worthington, vejam a coincidência, é o astro de Avatar, o novo James Cameron, que estreia no fim do ano. Ele é muito bom. "É intenso e concentrado, características que fazem os melhores atores", diz Christian Bale do colega. A guerra das máquinas é um tema recorrente da ficção científica. O repórter cita 2001, Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick. "Uma obra-prima", observa Bale, mas ele revida com J.G. Ballard, o autor do romance que inspirou seu primeiro filme, Império do Sol. Ballard discutiu as máquinas, lembrem-se de Crash, Estranhos Prazeres. O repórter pega carona em Ballard e Steven Spielberg. Como é aterrissar numa série em que o personagem cresceu aos olhos do espectador? Bale voltou-se para o próprio passado, em busca de inspiração para fazer o seu John Connor? "Não vou dizer que não exista nada de mim no personagem nem que não existe nada em Batman. A gente sempre termina por imprimir alguma coisa aos papéis, mas não sou do tipo que busca o personagem em seu interior. O desafio é criar personagens diferentes usando a técnica, não a emoção." Christian Bale conta que tinha 17 anos e estava se estabelecendo nos EUA quando estreou O Exterminador 2 - O Julgamento Final. "Como todo mundo, fiquei impressionado e apaixonado. Era um novo conceito de ação, de ficção científica." Apesar dos elogios a Kubrick e James Cameron, ele revela que não vai muito ao cinema. "Prefiro ler; o cinema não estimula a imaginação", diz. Num filme como O Exterminador 4, a tendência é carregar nos efeitos, o que obriga os atores a contracenarem com o ?blue screen?, a famosa tela azul sobre a qual serão aplicados os efeitos digitalizados. "Sinto decepcioná-lo, mas McG é maluco. Ele detesta blue screen e prefere construir os cenários e operar explosões de verdade. É tudo muito realista e isso facilita a entrada no papel." Como é trabalhar com dois diretores que estão renovando franquias tão conhecidas, como Nolan e McG? "São visionários. É bom trabalhar com gente que possui um conceito e o aplica." Serviço O Exterminador do Futuro: A Salvação (Ale-EUA-Ingl/2009, 130 min.) - Ação. 14 anos. Cotação: Regular

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