Filmes brasileiros falam da força dos que sobrevivem

Sobreviventes e Corumbiara são as atrações de hoje

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
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Um filme breve, de 52 minutos, mas de grande densidade, é Sobreviventes, de Miriam Chnaiderman e Reinaldo Pinheiro. A ideia dos diretores foi trabalhar com depoimentos de pessoas que experimentaram alguma situação-limite e, de uma forma ou de outra, viveram para contar a história. O cenário é sempre o mesmo - uma poltrona, contra uma parede de tijolinhos, com algumas inserções de outras imagens. Ora uma peça encenada no Teatro Oficina, um trem passando, a superfície das paredes. O que interessa mesmo é quando as pessoas contam suas histórias, e a câmera se fixa ora em seus rostos, ora em suas mãos. Às vezes há um descompasso entre imagem e som. Ouve-se a fala, mas a boca não se mexe. São imagens profundas, belas, nunca bonitinhas. Procuram-se nos rostos os traços daquela beleza que Baudelaire chamava de convulsiva. Rostos de gente que viu a morte de perto. Há pessoas que sobreviveram a graves acidentes de carro. Há torturados da época da repressão política. Há negros que sofreram discriminação racial. Há bandidos que passaram o diabo nas prisões e foram salvos - pasmem - pela literatura. Há um caso de soropositivo, que dá um depoimento corajoso e perturbador. O que tudo isso quer dizer? Miriam Chnaiderman é psicanalista. Sabe que uma possibilidade de contornar o trauma é ressignificá-lo. O filme é isso. A tentativa comovente das pessoas de dar um sentido à vida depois de quase a perderem. Corumbiara, de Vincent Carelli, fala também de sobreviventes, mas de outra espécie: são os índios, vítimas maiores desse permanente genocídio à brasileira. Carelli, no entanto, não se presta ao bom-mocismo com que em geral se trata a questão indígena. Sua relação é mais de espanto, nem tanto pela desaparição de civilizações inteiras, mas pela permanência tenaz de algumas delas. A persistência dos sobreviventes, apesar de tudo. É Tudo Verdade CCBB: Rua Álvares Penteado, 112, tel. 3113-3651 13h, O Esquecimento, de Heddy Honigmann; 15h, Segundas Sangrentas & Tortas de Morango, de Coco Schrijber; 17h, Tias Duronas, de Kim Longinotto; 19h, Tudo É Relativo, de Mikala Krogh. CINESESC: Rua Augusta, 2.075, tel. 3087-0500 15h, Corumbiara, de Vincent Carelli; 17h, Ôri, de Raquel Gerber; 19h, Z32, de Avi Mograbi; 21h, Sobreviventes, de Miriam Chnaiderman e Reinaldo Pinheiro. Grátis. www.etudoverdade.com.br

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