PUBLICIDADE

''Filme chega em boa hora aos EUA''

Rodrigo Santoro, que vive Raúl Castro em Che, fala do sucesso americano do longa e de sua carreira, no Brasil e no exterior

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Rodrigo Santoro não se esquece da emoção que sentiu ao assistir a Che com uma plateia de 4 mil pessoas no gigantesco Teatro Karl Marx, durante o Festival de Havana, em dezembro. Após a Mostra Internacional de São Paulo, a que compareceu para acompanhar Benicio Del Toro na exibição do díptico de Steven Soderbergh sobre o lendário guerrilheiro, na noite de encerramento do evento, Santoro foi à Espanha para prestigiar, também lá, a estreia do filme. Che bateu a bilheteria dos blockbusters de fim de ano na Espanha e, nos EUA, encontrou seu público na costa Oeste e na Leste. Em Los Angeles, as duas partes foram lançadas simultaneamente. Não houve ainda, pelo menos por enquanto, lançamento no meio-Oeste, onde habita a maioria silenciosa dos EUA, o eleitorado de George W. Bush. Assista ao trailer de Che "O filme foi bem nos EUA", regozija-se Santoro, que acompanha a performance de Che ao redor do mundo mais do que interessado - entusiasmado. Ele sabe que o filme cuja primeira parte estreia hoje no Brasil é polêmico. "Para muita gente, Che é um herói; para outros, um assassino. Steven (Soderbergh) não quis reforçar uma visão nem a outra. Ele busca o homem, o ser humano." Em Havana, Santoro e Del Toro fizeram a apresentação do filme e depois foram para trás da tela, observar as reações do público. "Afinal, se há um lugar onde as pessoas sabem quem foi o Che, é lá. Foi emocionante. Fiquei quatro dias em Havana, após as exibições, e as pessoas me paravam para conversar, comentar, elogiar." Rodrigo vive Raúl Castro, mas não sabe se o irmão do ?Comandante?, que sucedeu Fidel Castro à frente do governo da ilha, assistiu ao filme. "Raúl estava fora e, depois, quando voltou a Havana, tinha agenda superlotada. O pessoal do Icaic (o Instituto de Cinema de Cuba) foi muito bacana conosco. Pelo Granma (o órgão oficial), eu acompanhava os compromissos de Raúl e via quanto ele estava atarefado. Não fosse isso, teria ido, na cara dura, à porta do palácio para pedir uma audiência." Santoro sabe que ainda é cedo para avaliar se a boa receptividade a Che, nos EUA, tem a ver com a nova administração de Barack Obama. Mas, para ele, o filme chega em boa hora. "Há um desejo de mudança e o filme trata de revolução, de uma mudança radical, como o mundo precisa." Ele se inflama, mas logo mede as palavras. "Completam-se 50 anos da Revolução Cubana. Muita gente é contra, mas basta estar em Cuba, em Havana, para perceber como aquele povo é culto, preparado. Torço para que as mudanças que lá também precisam ocorrer levem isso em conta e preservem esse patrimônio da humanidade", diz. Opinião muito importante, que Santoro está louco para conhecer, é a de Walter Salles, seu diretor em Abril Despedaçado e produtor em Leonera, de Pablo Trapero. Em 2008, encontraram-se no Festival de Cannes. Leonera passava no início do festival; Che, no fim. Os compromissos impediram que se encontrassem após a exibição do filme de Soderbergh. O ator lembra que foram sete anos de pesquisa e preparação para fazer Che. Por iniciativa própria, ele foi à ilha para se preparar. Nunca pisou em Varadero, destino turístico por excelência de quem vai a Cuba. Santoro queria saber quem eram os cubanos, quem era esse Raúl, sempre à sombra de Fidel. Depois, durante a filmagem em Porto Rico, ele viveu um dos períodos mais intensos e felizes da sua vida. "Steven (Soderbergh) fez o filme em castelhano, com atores de várias procedências de toda a América Latina. Éramos a própria expressão da diversidade cultural, mas também do companheirismo. Steven improvisava o tempo todo, e isso nos mantinha em estado de alerta que, imagino, era o mesmo que os guerrilheiros experimentavam há 50 anos, só que com eles devia ser muito mais intenso, claro." Todo dia, após a filmagem, a equipe batia uma bolinha. Unidos pelo futebol. Depois, o filme foi para Cannes. Até quem não gosta de Che, o filme ou o personagem, respeita o trabalho. Como não se sentir orgulhoso? A entrevista está sendo feita por telefone. Santoro está em casa, no Rio. Ele comete uma indiscrição, conta que está filmando Reis e Rato, de Mauro Lima, diretor de Meu Nome não É Johnny. "Mauro não vai gostar que eu tenha falado. Caí de paraquedas no filme, que é uma produção muito barata, rodada num buraco. Mauro pediu o maior sigilo da gente porque quer fazer o filme em duas semanas, sem nenhuma imprensa no set para dividir a atenção. O lema é concentração." Ele deve regressar aos EUA para o lançamento de I Love You Philip Morris, de Glenn Ficarra e John Requa, com Jim Carrey. "O sucesso do filme em Sundance, em janeiro, foi muito bacana. O público de lá adorou o humor negro. Philip Morris ainda não tinha distribuidor, porque é uma produção superindependente. Espero trabalhar no lançamento, o filme merece." Outro trabalho que o empolga é Som & Fúria, que Fernando Meirelles fez como série para a Globo. Na recente premiação do cinema paulista pela Fiesp e pelo Sesi, o repórter encontrou-se com o diretor. Meirelles está remontando Som & Fúria. Santoro inquieta-se: "Por quê?" A Globo gostou tanto que quer esticar o trabalho. "Ah, bom", relaxa o ator. "O que sei é isso, eles estão encantados com a série." O próprio Meirelles define Som & Fúria como ?muito simples?, a coisa mais simples que já fez. Só atores dizendo textos, mas são grandes atores e grandes textos. "Cara, foi uma experiência muito boa. Nunca havia me exercitado muito na comédia, mas com o Fernando houve uma afinidade, foi sensacional. E o texto é uma delícia." Santoro participa de 4 episódios. Seu entusiasmo é de principiante. Ele não consegue ser blasé. "Ah, não. Faço o que gosto, com pessoas maravilhosas. Espero levar minha carreira sempre assim. O dia em que pensar só em dinheiro, em projeção, é melhor largar tudo."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.