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Filhos ilustres do Pasquim

Antologia revê humor escrachado de O Planeta Diário, tablóide que surgiu logo após o fim da ditadura militar

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Por Ubiratan Brasil
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A primeira piada já figurava no título - como um jornal podia se chamar O Planeta Diário se era mensal? Na verdade, era o segredo do sucesso: apesar do tamanho (tablóide) e da espessura pouco avantajada (16 páginas), cada nova edição era quase disputada a tapas nas bancas, obrigando a circulação, que era de 10 mil exemplares na época do lançamento (dezembro de 1984), saltar para 80 mil em poucos meses. ''''Chegamos a ultrapassar a marca dos 100 mil, o que foi devidamente comemorado'''', lembra o desenhista, contrabaixista e escritor Reinaldo, criador do jornal ao lado de Hubert e Cláudio Paiva. Tal festejo foi um jantar, pago quando finalmente o caixa apresentou o primeiro lucro. Um sucesso merecido - surgido em uma época em que o País começava a se livrar do longo período de ditadura militar, O Planeta Diário trazia um humor totalmente descompromissado com engajamento político. ''''Na verdade, nossa intenção era ser engraçado e o mais absurdo possível'''', comenta Hubert, lembrando que o Planeta ironizava a própria imprensa no que ela apresenta de mais condenável, ou seja, fórmulas gastas, frases feitas, lugares-comuns. Um bom exemplo desse escracho pode se apreciado agora na antologia O Planeta Diário, recentemente lançada pela Desiderata (348 páginas, R$ 69), editora que foi incorporada pelo grupo Ediouro. O projeto de criar um jornal de humor era antigo. Sempre que Hubert, Reinaldo (que hoje integram a trupe do Casseta & Planeta) e Cláudio Paiva (atualmente na redação do seriado A Grande Família) se encontravam, o assunto não variava. Eles já colaboravam no Pasquim, a mais famosa publicação humorística da imprensa nacional, mas, com a abertura política, o jornal pendia mais para política que para a sátira. Até o dia em que Paiva sugeriu que o trio recriasse O Planeta Diário, famoso jornal dirigido por Perry White (''''o velho homem de imprensa'''') e no qual Clark Kent dava duro como repórter, quando não estava salvando o mundo como Super-Homem. Reunidos em um dos quartos do apartamento de Paiva (que funcionou como redação durante um período), no bairro carioca da Gávea, eles partiram para o achincalhe, não salvando ninguém. Basta ver a capa do primeiro número, reproduzido nesta página - um dos títulos já revela um dos alvos principais do humor: ''''Nelson Ned é o novo Menudo''''. Em um dos números seguintes, a história continuava: ''''Nelson Ned pisoteado no show do Menudo''''. Ainda na primeira edição, outro título provocador: ''''Maluf se entrega à polícia''''. ''''Com isso, rompemos com o humor mais ideológico e introduzimos a babaquice'''', conta Hubert. Nem o Super-Homem escapava - voando ao lado do logotipo do jornal, ele aparecia gritando: ''''Krigh-ha, Bandolo!'''', o que, na verdade, era o grito do Tarzã. O Planeta Diário imitava os tablóides dos anos 1950, recheado de fotos antiquadas e gravuras pirateadas de revistas que o trio descobriu nos sebos do Rio. Já o conteúdo era impiedoso com qualquer figura nacional conhecida. Esperidião Amin, por exemplo, mais conhecido pela calvície que por ter sido governador de Santa Catarina, era tema de uma matéria em que inaugurava um ''''aeroporto de mosquito''''. ''''Olho para trás (sem trocadilho, por favor) e vejo piadas que ainda funcionam, principalmente as com o Botafogo'''', diverte-se Hubert.

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