Festa para Johnny e Estômago

O primeiro levou 6 troféus e o segundo 5 em cerimônia realizada no Rio

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Por Roberta Pennafort
Atualização:

Se em 2008 todas as atenções se voltaram para o Capitão Nascimento de Tropa de Elite, este ano o Grande Prêmio Vivo do Cinema Brasileiro, organizado pela Academia Brasileira de Cinema, ficou dividido entre um traficante de classe média e um rapaz simples com incríveis dotes culinários: Meu Nome Não É Johnny venceu em seis categorias e Estômago, em cinco. Enquanto o blockbuster de Mauro Lima levou os troféus Grande Otelo de ator (Selton Mello), atriz coadjuvante (Julia Lemmertz), roteiro adaptado, trilha sonora original, som e montagem, o modesto Estômago venceu o de melhor filme pelo voto popular (pela internet e mensagem de celular) e pela escolha do júri, diretor (Marcos Jorge), ator coadjuvante (Babu Santana) e roteiro original. Ambos já colecionam prêmios no Brasil e no exterior. Leandra Leal ganhou na categoria melhor atriz, por Nome Próprio; Ensaio Sobre a Cegueira ficou com quatro dos chamados prêmios técnicos, direção de fotografia, direção de arte, efeitos visuais e maquiagem. Selton Mello estava entre os mais emocionados. "A gente acha que não vai ficar nervoso, mas fica. É louco esse negócio de ?melhor ator!?" As escolhas foram feitas por produtores, cineastas e atores, num total de cerca de 300 membros da Academia, presidida pelo diretor Roberto Farias. A cerimônia foi realizada na casa de espetáculos Vivo Rio, e teve como apresentadores Daniel Filho e Marília Pêra. Eles sofreram com problemas no som (as vozes soaram sibiladas o tempo todo) e no teleprompter, que falhou seguidas vezes. Mas se saíram muito bem, fazendo graça e entretendo a plateia. A noite teve alguns discursos interessantes, como o de Wagner Tiso, responsável pela premiada trilha sonora de Os Desafinados. "Muitas pessoas fingem que não gostam de ganhar prêmio, mas eu adoro. Merecemos ou não?" Babu Santana lembrou a mãe: "Ela sempre quis que eu trouxesse um canudo de faculdade. Espero que isso aqui possa substituir!", brincou, com o troféu na mão. Helvécio Ratton, diretor de Pequenas Histórias, sagrado melhor longa-metragem infantil, falou da necessidade de se insistir na produção nacional do gênero. "Nossas crianças estão tão acostumadas a ver filme americano desde cedo, que os filmes brasileiros é que parecem estrangeiros para elas." Leandra Leal não pôde ir porque estava em São Paulo, ensaiando a peça Vestido de Noiva, que estréia em maio com direção de Gabriel Villela. A mãe, a atriz Ângela Leal, tremia de orgulho ao falar por ela (o texto foi ditado pelo telefone): "Foi o cinema que me apresentou o que eu quero fazer até o fim da vida, no set de A Ostra e O Vento. Tinha eu 13 anos. O prêmio mostra que é possível fazer cinema autoral no Brasil sem grandes patrocínios." Em plena discussão do novo modelo de Lei Rouanet, a questão financeira também foi mencionada pelo diretor de Estômago. "Esse filme é uma aventura que deu muito certo. É uma prova de que as lacunas, as dificuldades, podem ser preenchidas pela paixão da equipe." Fernando Meirelles, diretor de Ensaio Sobre a Cegueira, felicitou o colega ao fim da cerimônia e disse que é bom ver que "não é preciso ter milhões de dólares" para fazer um bom filme. O cineasta Nelson Pereira dos Santos foi homenageado pelos colegas, por seus 44 anos de carreira. Imagens de filmes como Rio 40 Graus, Rio Zona Norte, Memórias do Cárcere e Vidas Secas foram mostradas e Nelson foi aplaudido de pé. "É o prêmio mais valioso que estou recebendo na minha vida de cinema, porque vem dos meus colegas", agradeceu, com a voz embargada. "Estou emocionado. Ainda bem que só tenho 80 anos." A cerimônia ainda lembrou o centenário de Carmen Miranda (e sua contribuição para o cinema nacional nos anos 30) e os 50 anos da morte de Villa-Lobos (o primeiro compositor a criar uma trilha sonora original para um filme brasileiro), além de premiar o esforço da Laborcine, laboratório carioca que restaurou toda a obra de Nelson. O Mistério do Samba, de Lula Buarque e Carolina Jabor, que tem entre seus produtores Marisa Monte, foi premiado como melhor documentário e melhor montagem de documentário. Marisa disse que vai entregar o troféu para a Velha Guarda da Portela, retratada no filme. Os Destaques MELHOR FILME (JÚRI E VOTO POPULAR): Estômago MELHOR ATOR: Selton Mello (Meu Nome não É Johnny) MELHOR ATRIZ: Leandra Leal (Nome Próprio) MELHOR ATOR COADJUVANTE: Babu Santana (Estômago) MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Julia Lemmertz (Meu Nome não É Johnny) MELHOR DIRETOR: Marcos Jorge (Estômago) MELHOR DOCUMENTÁRIO: O Mistério do Samba MELHOR FOTOGRAFIA: Cesar Charlone (Ensaio sobre...) MELHOR DIREÇÃO DE ARTE: Tulé Peake (Ensaio sobre...) MELHOR TRILHA SONORA: Wagner Tiso (Os Desafinados) MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: Mariza Leão e Mauro Lima (Meu Nome não É Johnny) MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Estômago MELHOR FIGURINO: André Simonetti (Chega de Saudade) MELHOR LONGA ESTRANGEIRO: Vicky Cristina Barcelona

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