Fedegunda, uma menina que emociona crianças e adultos

No Rio, peça de sucesso, criada no Festival Intercâmbio de Linguagens no mês passado, encerra temporada nesta semana

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Por Roberta Pennafort
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No palco, cinco atores cantam, dançam e contam a história de Fedegunda, uma jovem que ama tudo à sua volta, e muito, mas repentinamente se vê sem o seu coração. Um pianista, um cravista e uma violoncelista se apresentam ao vivo - trata-se de uma ópera para crianças, com libreto de Karen Acioly, que também assina a direção. Quem assiste à comovente encenação não faz idéia de que a equipe teve dez dias para ensaiar. Só dez dias? Sim, Fedegunda é resultado de um work in progress realizado, no mês passado, durante o 6º Festival Intercâmbio de Linguagens (FIL), o que pressupõe pouco tempo e muito, muitíssimo trabalho. A semente da peça foi plantada na edição do ano passado, por Karen e o francês Camille Rocallieux. Em quatro dias, ela criou a história e as letras; ele, as canções do primeiro ato. Os dois se conheceram num festival do gênero, na França, dois anos atrás. Neste último FIL, a parceria franco-brasileira se estreitou (além de Rocallieux, a preparadora corporal, Eléonore Guisnet-Meyer, e o responsável pela concepção da luz, Olivier Modol, também vêm de lá). "É uma ?ópera express? mesmo. Quando você só tem dez dias, é importante conceituar antes. Os atores participaram bastante, tiveram que buscar seus personagens", conta Karen, a criadora do festival. "A proposta é conseguir, nesse pouco tempo, criar e semear projetos, plantar intercâmbios que continuem." Rocallieux faz coro: "Foi muito bom e muito diferente. Na Europa, não se costuma fazer as coisas tão rapidamente. Antes de chegar, eu não sabia quem ia cantar nada. A gente teve que improvisar." Com 50 minutos, a versão final de Fedegunda foi apresentada pela primeira vez no início de julho, no Teatro do Jockey. Ao fim, a platéia, lotada de crianças e adultos, aplaudiu de pé - a peça, que narra a busca da menina de nome engraçado por seu coração, que sumiu do peito, é lirismo puro. As últimas récitas são sábado e domingo, no Jockey. Além de Fedegunda, outros cinco works in progress deram origem a peças de teatro. Os "processos", como são chamados, envolveram brasileiros, italianos e franceses, entre autores, atores, acrobatas e músicos, adultos e crianças. O FIL tornou-se internacional há três edições. Anualmente, traz ao Rio novidades nas artes cênicas e trabalhos experimentais - desta vez, vieram latinos, europeus, canadenses e israelenses. Desde 2007, espetáculos passaram a ser criados durante sua realização, por companhias nacionais e/ou internacionais, fugindo da tradicional fórmula que inclui leituras seguidas de meses de ensaios. Camila Caputti, a Fedegunda - que contracena com Wladimir Pinheiro, Cristiano Penna, Jules Vandystadt e Jonas Hammar -, adorou a experiência, apesar da exaustão. "A gente fica enlouquecido, porque é muita informação em pouco tempo. Muitas vezes eu precisava sair do ensaio e dormir uma hora, para o pensamento se organizar", lembra a atriz. Dentro de alguns meses, a trupe parte para uma "vivência" na França; em julho de 2009, a peça volta aos palcos, por ocasião do Ano da França no Brasil.

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