Falso artista japonês é tema de livro-objeto

Criado por Yuri Firmeza, Souzousareta chegou a dar entrevistas em Fortaleza

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Por Redação
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Em 10 de janeiro de 2006, Fortaleza preparou-se para receber a mostra Geijitsu Kakuu, do artista japonês Souzousareta Geijutsuka. O Museu de Arte Contemporânea do Ceará divulgou maciçamente o currículo do artista, que não falava português. Uma única assessora de imprensa, Ana Monteja, intermediava entrevistas com o ilustre expositor. Souzousareta Geijutsuka quer dizer ''''artista inventado''''. Tarde a imprensa descobriu que o japonês não existia, era uma invenção de Yuri Firmeza, artista plástico de 23 anos. A assessora de imprensa era Irina, então namorada de Firmeza. O plano todo era de conhecimento do diretor do museu, Ricardo Rezende, e o bicho pegou em Fortaleza. ''''Reagiram de forma truculenta, me chamando de mesquinho, de moleque'''', lembra Firmeza, que hoje vive em São Paulo. O invasor Geijutsuka, como o escritor americano JT Leroy, virou pivô de um ruidoso debate. ''''O que nós queríamos era questionar todo o sistema de artes, o que inclui a mídia. Mas também o papel do crítico de arte e do museu como legitimadores do artista.'''' Yuri Firmeza não considera Souzousareta um heteronômio. Crê que foi uma espécie de criação coletiva com intenção conceitual. ''''Chamou a atenção para o campo da arte, que não tem tradição de revelar seus meandros.'''' O processo todo vai sair em livro em novembro, financiado pela Fundação de Cultura, Esporte e Turismo de Fortaleza e pelo BNB. Será um livro-objeto, um dossiê de cerca de 80 páginas, artigos contra e pró Souzousareta, ensaios de gente como Hermano Vianna e sociólogos, literatos, críticos. ''''O ataque é feito às estruturas de controle, essencialmente às idéias'''', escreve Firmeza, citando Hakim Bey, em seu ensaio sobre o início de tudo. Ele concebeu um ''''artista-hacker'''', cuja conceituação tinha origem nas idéias de Pierre Bordieu, e conta que as tensões provocadas pelo trabalho já se manifestavam na véspera da abertura da exposição. ''''A idéia de invasão remetia-me à coletividade, à ocupação ilegal, à difusão, à irrupção'''', diz o artista. Em um dos ataques mais fortes que sofreu, estava o de jornalista que o acusou de fazer tudo aquilo para ''''conseguir espaço na mídia'''', e citava Nelson Rodrigues: ''''Os idiotas perderam a modéstia.''''

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