Fabiana Cozza vê seu futuro na carreira de Elizeth Cardoso

No Auditório Ibirapuera, cantora paulista interpreta repertório consagrado pela Divina

PUBLICIDADE

Por Francisco Quinteiro Pires
Atualização:

Quando contempla a carreira de Elizeth Cardoso, a cantora paulista Fabiana Cozza mira o próprio futuro. Show que vai ser apresentado hoje, amanhã e domingo no Auditório Ibirapuera, Fabianíssima - Tributo a Elizeth Cardoso é um marco. É a chegada à maturidade, como ela diz, depois de lançar os CDs O Samba É Meu Dom (2004) e Quando O Céu Clarear (2007). Ou a hora de ser uma intérprete ligada não somente ao samba, a raiz de Fabiana, mas não o seu único destino. "Sou uma cantora que busca estar no mundo, e a música é a linguagem para isso", ela afirma. Nada mais Elizeth do que essa afirmação. "Ela transitou, de modo inteligente, por vários estilos da música brasileira", diz Fabiana, de 33 anos. O nome do show pode evocar Elizethíssima, elepê de 1981. Mas o repertório da apresentação é um apanhado da carreira de Elizeth. O roteiro musical é do pesquisador Alexandre Pavan. Estão previstas 21 composições, entre elas Folha Morta, Mulata Assanhada, Na Batucada da Vida, Canção do Amor, Nossos Momentos, Cidade Vazia, Consolação e Sei Lá Mangueira. Luizinho 7 Cordas é o convidado especial e toca Lamentos e Doce de Coco, choro de Jacob do Bandolim, considerado o descobridor da cantora carioca. Com o instrumentista, que diz ser o seu "pai musical", Fabiana relembra o antológico duo entre Elizeth e o violonista Raphael Rabello, gravado no LP Todo Sentimento (1991). Acompanhada só por Luizinho, ela canta Violão Vadio e Todo Sentimento. Fabiana Cozza prepara-se há 3 meses para o show em homenagem àquela que lhe "despertou o ouvido musical". Por cantarem numa tonalidade parecida, Fabiana se viu em dificuldades para "se desgrudar" do modo de interpretar da Divina. "Percebi que estava apenas copiando suas interpretações contundentes e seu vibrato característico", diz. O segredo foi apostar numa leitura subjetiva das canções. Fabiana se permitiu ser mais livre, o mesmo que não ter medo de mostra-se bastante pessoal, de se expor mais, na hora de soltar a voz. Nisso, ela segue outra característica de Elizeth: "a inteligência essencialmente emocional, que não tinha nada de cartesiana." Um exemplo. Segundo Fabiana, Elizeth faz uma leitura "romântica" de Na Batucada da Vida. Já a cantora paulista vê uma dor na letra desse samba: a mulher é "uma desenganada", quem sabe "uma prostituta". A liberdade para cantar também é possível, segundo Fabiana, por causa dos arranjos de Marcos Paiva, que não tem a "formação tradicional" do samba. "E mais, minha banda é jovem e permite outra leitura", diz. Vão acompanhá-la Renato Epstein (violão), Marcos Paiva (baixo), Rodrigo Campos (cavaquinho), Edson Sant?anna (piano), Douglas Alonso (percussão) e Celso de Almeida (bateria). Elizeth costumava atuar com um regional, bem perto dos instrumentistas. Fabiana, na falta de um regional, manterá uma "atmosfera camerística" no palco. Antes de se dedicar a Fabianíssima, ela se apresentou com Marcel Powell (filho de Baden) e o jazzista Sadao Watanabe, no Japão, e com o acordeonista basco Kepa Junkera, na Espanha. Na segunda quinzena deste mês, toca com a Banda Mantiqueira no Tom Jazz. Em maio, na Virada Cultural, divide o palco com Leny Andrade. Em todos os projetos, ela mantém a sua maior referência, que era a mesma de Elizeth. "Só entendo os diferentes acentos melódicos das composições, porque tenho o samba como base." Serviço Fabiana Cozza. Auditório Ibirapuera (800 lug.). Av. Pedro Álvares Cabral, s/n.º, portão 2 do Pque. do Ibirapuera. 3629-1014. 6.ª e sáb., 21 h; dom., 19 h. R$ 30 A Cantadeira ELIZETH CARDOSO: A carioca Elizeth Cardoso Valdez (1920-1990) iniciou a carreira no rádio. Cantou em teatros, cinemas, clubes e na televisão. Estreou em disco em 1949. Trabalhou com vários artistas: de Grande Otelo e Cyro Monteiro a Vinicius de Moraes e Baden Powell. Tornou-se a matriz vocal de cantoras como Elis Regina e Clara Nunes. Gravou discos antológicos, entre eles Canção do Amor Demais e Elizeth Cardoso, Zimbro Trio Jacob do Bandolim. Apelidaram-na de Divina, Magnífica e Cantadeira do Amor. F.Q.P

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.