Início do século 20. A cidade de São Paulo começa a alterar sua geografia – aos poucos, a vila se moderniza e começa seu caminho para se transformar em metrópole. Suas vias se enchem de carros, casas dão lugar aos primeiros arranha-céus. A cidade cresce. Foi esse cenário que atraiu o olhar de Theodor Preising (1883-1962), um alemão que chegou ao Brasil em 1923, aos 40 anos. Ele deixou uma Alemanha que vivia um grande momento cultural, com a criação da Bauhaus, da Escola de Frankfurt e sua teoria crítica, do desenvolvimento do dadaísmo e das vanguardas artísticas, e do surgimento das revistas ilustradas, que abriam cada vez mais espaço para a fotografia, considerada uma linguagem moderna.
Preising chegou ao Brasil fotógrafo, com experiência em estúdio produzindo retratos. Inicialmente, ele se estabeleceu no Guarujá e iniciou a comercialização de cartões-postais de terceiros. Não se fixou por muito tempo na cidade litorânea, pois logo percebeu que seria em São Paulo onde poderia retomar seu trabalho como fotógrafo. E foi nesta cidade que começou a produzir os seus cartões-postais. Suas vistas da cidade de São Paulo traziam um olhar estrangeiro, mas que identificava o vigor e a pulsão que a habitavam.
Agora, às vésperas da comemoração dos 100 anos de sua chegada ao Brasil, o Unibes Cultural apresenta, até o dia 28 de agosto, a exposição Theodor Preising, um Olhar Moderno, São Paulo, produzida por Douglas Roberto Aptekmann, seu bisneto, e com curadoria do professor e pesquisador Rubens Fernandes Junior. “Reunimos um expressivo conjunto de fotografias da cidade de São Paulo”, explica Fernandes Junior. “Ao mesmo tempo que mostra o vigoroso progresso urbano da emergente metrópole, a exposição busca reconhecer um olhar que se distancia da simples documentação e se aproxima das estratégias imagéticas da modernidade fotográfica.”
Assim, por meio de suas fotografias, é possível passear pela Avenida São João, passar ao lado da Biblioteca Mário de Andrade, ver do alto a Praça do Correio ou ter uma panorâmica da Praça da Sé. Podemos ver a cidade na qual se misturam pedestres, carros e bondes. A geometria de suas ruas, os contrastes. “Preising também demonstrava um especial interesse pelo espontâneo e imprevisível movimento urbano, e sabia captar, na imagem, a vida anônima que circulava nas ruas da cidade”, observa o curador.
Seu olhar minucioso o aproximou do lendário Foto Cine Clube Bandeirante, a escola da fotografia moderna por excelência. Participou de exposições e teve suas fotografias publicadas em diversos catálogos no Brasil e no exterior. “Também participou, em 1936, ativamente da Revista S. Paulo, uma experiência gráfica-fotográfica complexa e ousada para os padrões da época, ao lado de Benedito Junqueira Duarte, Menotti Del Picchia e Cassiano Ricardo, entre outros intelectuais, e publicou também no Suplemento de Rotogravura, que circulava no Estadão”, ressalta Fernandes Junior.
Pode parecer nostálgico nos dias de hoje, quando somos submetidos a um oceano de manchas coloridas que invadem as redes sociais, passearmos pela cidade por meio dos cartões-postais. Não se deve esquecer, porém, que, nas primeiras décadas do século passado, foi justamente o cartão-postal a forma mais eficiente e rápida de comunicação e circulação das imagens e na criação de uma memória da cidade.
Theodor Preising, um Olhar Moderno, São Paulo
- UNIBES CULTURAL. RUA OSCAR FREIRE, 2.500, SUMARÉ. 3ª A 6ª, 14H/19H. ENTRADA GRATUITA COM AGENDAMENTO – TEL. (11) 98442-9811. ATÉ 28/8