Em junho, a Rússia vai estar no centro das atenções de todo o mundo por conta da Copa do Mundo de Futebol. Muito longe das atrações turísticas e das figuras de matrioskas, uma exposição fotográfica em São Paulo, na Caixa Cultural, traz um olhar diferente, mais crítico e social, sobre o país, pelas lentes do fotógrafo russo Serguei Maksimishin. A mostra O Último Império abre ao público a partir desta quarta-feira, 30.
O fotógrafo, que está no Brasil para a abertura da exposição, conversou com o Estado. “Fico feliz que as pessoas aqui se interessaram pelo meu trabalho, é um grande prazer estar aqui”, diz Maksimishin. “Mas não sei quantas pessoas virão”, brinca.
O artista russo, de 54 anos, começou a fotografar o seu país nos anos 1990, quando se formou em fotojornalismo pela Universidade Estatal de São Petersburgo. Logo se interessou por capturar imagens que mostrassem a reabertura política e econômica da Rússia, por todo o seu extenso território, de Kaliningrado a Kamchatka, e também dos outros países da antiga União Soviética, o “último império” a que o título da exposição se refere, após o fim do regime comunista. “Toda a exposição é para falar sobre as mudanças a partir de uma investigação”, explica Maksimishin. “Acredito que o trabalho de um fotógrafo é um trabalho de investigação sobre um assunto. Essa exibição é sobre o ‘último império’ e sobre os 20 anos que se passaram desde então.”
Com a exposição, Serguei Maksimishin espera que o público brasileiro possa conhecer aspectos diferentes sobre o país, uma situação que ele compara com estereótipos que o mundo tem sobre o Brasil, como samba e futebol. “A Rússia é o maior país do mundo e conosco acontece o mesmo que acontece com o Brasil. Espero que o interesse das pessoas vá além das matrioskas.”
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Apesar da proximidade da Copa do Mundo, foi uma coincidência a realização da exposição, segundo a também russa Maria Vragova, diretora executiva da Ars et Vita, que realiza a mostra. “Não pensamos nisso, mas é uma coincidência feliz”, acredita Vragova. “Ele é um dos fotógrafos mais importantes da Rússia. Faz fotojornalismo, mas com o olhar de um artista. Ele tem um olhar muito crítico e faz as pessoas enxergarem a Rússia além dos clichês, como ela é de verdade.”
Ao todo, serão exibidas na Caixa Cultural 65 fotografias de Serguei Maksimishin, escolhidas sob a curadoria de Luiz Gustavo Carvalho. “Ele tem um olhar muito perspicaz sobre o país dele”, elogia o curador. “É importante mostrar como esse país, de proporções tão gigantescas, ainda vive influenciado por esse ‘último império’. Neste ano, tivemos lá a reeleição de um presidente que, depois de Stalin, é a figura com mais tempo de poder.” Para Luiz Gustavo, há uma relação clara da Rússia retratada por Serguei Maksimishin com o Brasil. “Ele viveu toda a loucura que foi o início dos anos 1990, o que se assemelha muito ao que o Brasil viveu na era Collor.”
Em suas fotografias, Maksimishin reúne cenas de pessoas comuns e todo o choque cultural entre a invasão do capitalismo e os resquícios do comunismo. “O antigo cotidiano da União Soviética ainda aparece em detalhes, como um busto de Lenin na decoração de um restaurante”, ressalta Carvalho. O humor, ácido e por vezes negro, também está presente em algumas cenas, como no registro de uma pessoa vestida como um personagem do programa infantil Teletubies em frente a uma pequena igreja de um povoado. “É um humor quase sarcástico, mas que não tira o personagem de seu caráter humano, não faz dele apenas um objeto.”
‘O ÚLTIMO IMPÉRIO’, DE SERGUEI MAKSIMISHIAN
Caixa Cultural São Paulo
Praça da Sé, 111. Tel. 3321-4400.
3ª a dom., 9 às 19h. Gratuito
Até 29/7