Exposição de Oskar Metsavaht une Cristo Redentor e MAC de Niterói

São 42 itens, como fotografias, pinturas e vídeos, para traçar paralelos entre as duas obras e propor reflexões

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Por Fabio Grellet
Atualização:

RIO - Uma obra concebida pelo engenheiro Heitor da Silva Costa (1873-1947), inaugurada em 1931, fica a 709 metros de altura e é vista como escultura art déco. Outra, criada pelo arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012), tem estilo modernista e, instalada no nível do mar, ficou pronta em 1996. Separados por cerca de 20 quilômetros, o Cristo Redentor, símbolo do Rio a menos de dois meses de completar 90 anos, e o Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói, que é cartão-postal da cidade e fez 25 anos em setembro, estão unidos na exposição 90 | 25 – Ícones e Arquétipos, do artista plástico Oskar Metsavaht, de 60 anos.

Obra de Oskar Metsavaht que une o Cristo Redentor com o Museu de Arte Contemporânea de Niterói Foto: Acervo Oskar Metsavaht

São 42 itens, como fotografias, pinturas e vídeos, para traçar paralelos entre as duas obras e propor reflexões. A exposição individual, que integra a programação da ArtRio, fica aberta ao público até 5 de dezembro, de terça-feira a domingo, das 11h às 16h, no MAC, situado no Mirante da Boa Viagem, em Niterói. A história começa em maio de 2014, quando Metsavaht conseguiu autorização para “entrar” no monumento do Cristo Redentor. “Tinha o objetivo de fazer fotos, mas não pensava em fazer uma exposição”, conta o artista plástico, que iniciou a visita quando o dia amanhecia. “Eu estava bem no centro da cabeça da estátua quando vi o sol nascendo, em linha reta ao rosto da imagem, exatamente onde eu estava”, relembra. O artista decidiu aproveitar o momento para meditar. Refletiu sobre a espiritualidade, a adoração de símbolos divinos e a função da geometria na criação desses símbolos. Ampliou então seu interesse pelo monumento. “O conhecimento da geometria vem da observação científica da natureza e, ao mesmo tempo, de uma relação com o divino, na perspectiva de sentir corporalmente a vida. Em algum momento, o homem começou a simbolizar aquilo que ele olhava”, afirma o artista, que é médico e cujos pais e irmãos se dedicaram à medicina ou às artes plásticas. “Eu uni as duas coisas, a visão científica com a artística.” A curiosidade pelo Cristo Redentor culminou, dois anos depois, na exposição Divina Geometria. Nela, propôs uma reflexão sobre espiritualidade, arte e arquitetura. Ela passou pelo Rio e por São Paulo. Durante a pesquisa, Metsavaht identificou ligações entre a estátua e o modernismo brasileiro. “O Cristo Redentor foi idealizado em 1922, mesmo ano da Semana de Arte Moderna, e definiu parte da nossa arquitetura modernista nas décadas seguintes. É uma peça modernista. Para fazer os braços suspensos (da estátua), era preciso usar a técnica do concreto armado, ainda não praticada no Brasil naquela época. Para isso, engenheiros italianos vieram e trouxeram a técnica, que depois foi amplamente usada no modernismo. A arquitetura modernista só existiu por conta da vinda para o Brasil da técnica do concreto armado.” Passados cinco anos do lançamento da exposição sobre o Cristo, o artista recebeu do MAC a proposta de levar a Divina Geometria para o museu de Niterói. “Claro que é uma honra, mas o artista sempre busca novos desafios”, pondera. “Então, propus fazer uma exposição que unisse o Cristo e o museu, aproveitando as datas comemorativas e mostrando as identidades, as ligações entre as duas obras”, conta ele, também diretor criativo da Osklen. Assim surgiu a exposição que se inicia agora e reúne obras que integravam a exposição Divina Geometria e outras inéditas, sob a curadoria de Marcus de Lontra Costa. “Eu nunca havia me dedicado a analisar o MAC como inspiração artística, mas gosto muito da arquitetura modernista, e ela já fazia parte do meu substrato cultural e da inspiração. Então, a ideia de juntar o MAC e o Cristo foi quase instantânea”, conta. “Niemeyer criou um continente, que é o museu, no sentido de espaço que contém alguma coisa, para reunir a arte contemporânea brasileira, que é o conteúdo. Eu transformei o continente em conteúdo. As pessoas vão sair daqui e olhar de novo para o MAC, de fora, com outro interesse, dizendo ‘olha isso, olha aquilo’, procurando o Cristo no horizonte”, prevê Metsavaht.

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