Exposição conta com programa de residências

O mexicano Jose Dávila e o argentino Adrián Villar Rojas já criaram suas obras

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Por Redação
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Andando pelo bairro de Higienópolis, o mexicano Jose Dávila deu de encontro com alguns edifícios projetados pelo arquiteto Vilanova Artigas que ele não conhecia. "Minha ideia era viver a cidade, encontrar coisas evitando o olhar de turista", diz o artista, um dos nove estrangeiros convidados a participar do programa de residências do Panorama da Arte Brasileira deste ano do MAM. Dávila, que vive em Guadalajara, sempre se interessou por arquitetura, gostaria de tê-la em sua formação - e por isso, além de naturalmente ir aos museus da cidade, foi atrás do Copan e das obras de Niemeyer.Em 1997, ele esteve aqui como turista para visitar São Paulo, o Rio e as Cataratas do Iguaçu. Agora, a partir de uma vivência diferenciada, vai produzir para o Panorama uma obra inspirada na série dos Núcleos, realizados entre 1959 e 1964 por Hélio Oiticica (1937-1980). "Vou fazer um trabalho mural, que também se refere à tradição mexicana, com planos que não têm cor, apenas linhas", conta Dávila, de 35 anos, que ficou hospedado durante sete semanas em loft no Edifício Lutetia. "Creio que a proposta deste Panorama é a Antropofagia ao inverso, a partir de fluxos e intercâmbios que existem no mundo", completa.Sua obra, que teve como base especificamente um dos Núcleos de Oiticica feito com formas planares amarelas suspensas no espaço, se refere, duplamente, à questão da "arquiteturalização do desenho", como diz. "O neoconcretismo e a arquitetura é o que chegam ao exterior como legado brasileiro", afirma Dávila, que voltará em setembro para instalar sua criação, apenas em projeto.Também já estava de partida, de volta para Buenos Aires, na semana passada, o argentino Adrián Villar Rojas, de 28 anos. Ele vai apresentar na mostra a instalação Nunca Esquecerei o Brasil, formada por prateleiras com cerca de 70 livros nos quais ele criou intervenções artísticas.Pela primeira vez no País e em São Paulo, Adrián achou curioso a quantidade de sebos pela cidade, algo que, segundo ele, não acontece na Argentina. Foi neles que ele comprou a grande maioria dos livros, de todos os tipos, assuntos e épocas, para realizar seu trabalho para o Panorama.A obra de Adrián, versão de trabalho anterior, tem um caráter mais poético e intimista. O artista utiliza principalmente as páginas iniciais das publicações, a parte da dedicatória, para nelas fazer desenhos, colagens, escritos e pinturas. Suas intervenções têm a ver com suas experiências na cidade, como a descoberta do edifício São Vito e a vista de tantas pichações, da obra de Aleijadinho, mas também assuntos brasileiros como a história de Tiradentes e o livro Macunaíma, de Mário de Andrade. "O Brasil tem tradição com a arte conceitual e eu quis utilizar a figuração", justifica o artista. É curioso que uma de suas referências mais fortes seja Portinari, brasileiro que ele conhecia há tempos - sobre a reprodução de uma de suas pinturas em um livro, o argentino fez uma intervenção para transformar a imagem em um "quarto de adolescente".Além deles, integram o programa de residências o espanhol Juan Pérez Aguirregoia; o sueco-argentino Runo Lagomarsino; a dupla formada pelo irlandês James Tennant Thornhill e pela italiana Fulvia Carnevale; o colombiano Mateo López; o venezuelano Alessandro Balteo Yazbeck; e a dinamarquesa Tove Storch.

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