Exposição 'A Máquina do Mundo' abre centro cultural no Rio

Mostra ocupa o novo espaço Z42 Arte, que tem 6 salas para mostras e ateliês de 7 artistas

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Por Roberta Pennafort
Atualização:

RIO - Da década de 1930, a casa de fachada de pedra do Cosme Velho onde se instalou a Z42 Arte, novo centro cultural do Rio que foi aberto no sábado, 24, contrasta com o interior de suas salas: obras de arte contemporânea dos anos 2000 para cá. Reformado por dois anos, o espaço, vizinho do Cristo Redentor, que foi residência no passado, sede de construtora e depois ficou fechado por sete anos, tem 1.500 m², dividindo-se em cinco salas expositivas e sete ateliês de artistas visuais. Comporta também uma reserva técnica com parte do acervo do colecionador carioca Fábio Szwarcwald, focado em artistas vivos.

É a primeira vez que a coleção dele, montada nos últimos 12 anos e na qual, entre cerca de 400 obras, se destacam Vik Muniz, Nelson Leirner, Osgemeos, Leda Catunda, Abraham Palatnik e Luiz Zerbini, é exposta ao público, afora empréstimos pontuais. “A partir de uma curadoria bem pessoal, sem qualquer viés acadêmico ou regra, ou seja, do olhar do colecionador, vamos mostrar artistas que não necessariamente têm espaço em museus e galerias. É importante que a arte contemporânea feita a partir dos anos 2000 seja vista”, diz Szwarcwald, que se associou a Zyan Zein, herdeira da construtora Zein, proprietária do imóvel, e Eduardo Lopes, diretor da Z42 (o Z é de Zein, e 42 é o número da casa, que fica na pacata rua Filinto de Almeida).

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Outro dado de ineditismo é a convivência entre os ateliês, que ficam nos andares superiores, e as salas de exposição do térreo. Inspirada em Os Lusíadas, de Luís de Camões, e no poema de Carlos Drummond de Andrade A Máquina do Mundo, a mostra, que ganhou o título drummondiano, vai reunir obras em diálogo da coleção de Szwarcwald, de Anthony Goicolea, Cadu, José Bechara, Walmor Corrêa, entre outros, e dos sete residentes, estes, com trabalhos à venda: Jorge Barata, Katia Wille, Maria Lucia Fontainha, Marcio Atherino, Rona, Talitha Rossi e Sergio Mauricio Manon – este, editor, com Clara Reis, da revista especializada Santart, agora também baseada na casa, e curador da mostra inaugural.

“Este lugar é um sonho, que nasce na contramão, num momento em que a Casa Daros fechou e que o País está em crise. Mas arte é transgressão, é ousadia. Assim como ler poemas, num tempo de fragmentação da mensagem, como o de hoje, totalmente atrofiado para a poesia, também é transgressão”, acredita Manon, referindo-se ao centro cultural que funcionou de 2013 a 2015 e expunha arte contemporânea latino-americana. “Igual ao que estamos fazendo, eu nunca vi igual. A crise atinge todo mundo, mas temos vontade muito grande de ir contra a maré e tentar esse novo formato”, conta Eduardo Lopes.

Os visitantes têm a chance de aprofundar as propostas dos artistas explorando seus ateliês. “Foi o que me fez vir para este espaço: o fato de ele ser vivo. Não é um lugar estéril, é mais do que uma galeria e mais do que os ateliês”, explica Katia Wille (criadora e estilista da bem-sucedida marca Zigfreda), que, como os demais, assumiu o novo endereço de trabalho há nove meses, em meio às obras de adequação da casa. Para a abertura, ela criou O Tudo do Tudo, uma investigação sobre o protagonismo do feminino. No térreo, estará o quadríptico Tethys e as Oceaníades, no qual se veem deusas flutuando entre águas e florestas.

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