''Eu precisava descobrir como era a sua alma''

Frank Langella explica como criou Nixon, que impressionou até o verdadeiro Frost

PUBLICIDADE

Foto do author Ubiratan Brasil
Por Ubiratan Brasil e NOVA YORK
Atualização:

Ron Howard pediu que a equipe e o elenco de Frost/Nixon tratasse o ator Frank Langella por ?Senhor Presidente? mesmo na folga de gravação entre as cenas - a intenção era que ele jamais abandonasse o espírito do personagem. Tamanho cuidado buscava ressaltar o trabalho minimalista de Langella, que compõe a figura do ex-presidente Richard Nixon com apenas algumas expressões. "Eu não pretendia impressionar ninguém, queria apenas representar um homem falível como somos todos", contou ele. Ao contrário de seu colega Michael Sheen, que interpreta um personagem ainda vivo (o jornalista David Frost), Langella baseou-se em imagens de arquivo e impressões que guardou de Nixon. Assim, se repete em alguns momentos o famoso gesto do ex-presidente de levantar os braços com dois dedos esticados em V, ressaltando seu curto pescoço, o ator não precisou de um nariz postiço, como o fez Anthony Hopkins, em Nixon, que Oliver Stone dirigiu em 1995. "Parti de um pressuposto básico: descobrir como era sua alma, como funcionava sua mente. Em uma história, não interpretamos um serial killer ou um músico, mas uma pessoa que tem esse título. Daí a necessidade de se ir mais a fundo." Ator com vasta carreira iniciada nos anos 1960, Langella confessou sua surpresa diante do desafio de interpretar Nixon, no teatro e no cinema. "Ele certamente foi a pessoa mais fascinante que já tive a oportunidade de representar", garante. "Fiquei obcecado por sua história, por seus demônios pessoais. Nixon era um político irascível, dono de um humor que mudava rapidamente e, por conta disso, revelador de todas as suas idiossincrasias - ao contrário do que acontece hoje, quando a política é dominada por figuras pasteurizadas." A caracterização, de fato, foi construída por detalhes. O cabelo grisalho levemente ondulado, por exemplo, ou a voz rosnada, dita em tom baixo. Mas é pelo olhar que Langella revela a alma de seu personagem - desde o esgueirar debochado e interessado em dinheiro com que observa Frost no início da entrevista até a súplica escancarada por um perdão com que finaliza a conversa. O próprio David Frost confessou estar impressionado com o trabalho de Langella. "Ele não se parece com Nixon, mas, ao vê-lo, você sente estar diante de Nixon", disse o jornalista à imprensa inglesa. "Langella transcende." A transição do palco para o cinema também foi uma experiência particular. Langella lembrou que, no teatro, a luta pela busca do personagem era diária. "Depois de um tempo, adquiri um ritmo muito particular com o qual eu ocupava o palco de forma quase instintiva", disse. "Diante das câmeras, porém, surgiu a oportunidade para experimentar novos elementos." A mesma sensação foi desfrutada por Michael Sheen no papel de David Frost. Ele, no entanto, sentiu um progresso em seu trabalho quando interpretou para o cinema. "No teatro, você cria situações, como fingir que está viajando em um avião. Já diante da câmera, você está, de fato, dentro de um." Interpretar um personagem real e ainda vivo impôs uma série de responsabilidades. Se há alguma vantagem em dispor de elementos que ajudam na composição, ao mesmo tempo há o risco de se criar uma caricatura. "Se eu interpretasse David Frost como um homem excessivamente competente, eu quebraria o suspense. Assim, especialmente seus erros, suas fraquezas tinham de estar presentes." Já o largo período em que dividiu a história com Langella, no palco e para a tela grande, foi desafiante. "Durante 18 meses, em quase todos os dias, contávamos essa história juntos. Como era algo que sempre surgia com frescor, já não importava mais se interpretássemos para a plateia de um teatro ou diante de uma câmera e uma equipe de filmagem. A faísca sempre surgia e incendiava nossa encenação." O repórter viajou a convite da Paramount

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.