03 de setembro de 2009 | 00h00
Na verdade, minha experiência de guerra tinha começado no Brasil, antes da viagem para os Estados Unidos. Minha lembrança mais remota do que significava a guerra, ou um clima de guerra, é a expressão blackout. Um termo novo e ameaçador entrava em nossas vidas: blackout. Era como uma sombra envolvendo o mundo que chegava onde jamais se imaginaria, nosso bairro. Havia blackout em Porto Alegre. Tocavam uma sirene e todos eram obrigados a apagar as luzes das suas casas ou vedarem as janelas, para prevenir ataques aéreos. Nunca ficou bem explicado por que Porto Alegre seria bombardeada, ou de onde viriam os aviões. O que não faltavam em volta de Porto Alegre eram colônias alemãs, mas, que se soubesse, elas não tinham uma força aérea. Mas todas as noites Porto Alegre se escurecia para ludibriar os bombardeiros. Curiosamente, na Califórnia, onde depois de Pearl Harbour um ataque aéreo japonês era uma possibilidade real, não tomavam as mesmas precauções. Não havia blackout.
Dos 7 aos 9 anos, morando nos Estados Unidos, fiz a minha parte na derrota do Eixo. Hiroshima e Nagasaki, não fui eu. Voltamos para o Brasil no primeiro cargueiro a sair de Nova York para a América do Sul depois do fim da guerra. Não me lembro se trouxe a metralhadora e a 45 comigo, como relíquias. Mas acho que antes de cruzar a linha do Equador eu já era um pacifista.
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