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Etiquette

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Por Redação
Atualização:

Com o dólar cada vez mais baixo e o brasileiro viajando cada vez mais para o exterior, seria bom reeditar um teipe supostamente preparado pela embaixada brasileira em Paris em 1998 dirigido aos torcedores brasileiros que chegavam para a Copa do Mundo na França. A orientação aos brasileiros era feita por um consultor francês chamado Jean-Paul Faisandé, que começava falando diretamente para a câmera. Torcedor brasileiro: attention. Não ouse chegar na Coup du Monde sem antes tomar lições de etiquette. É para isto que eu estou aqui. Para evitar que você envergonhe o seu país na França, comportando-se como um brasileiro. Primeira lição de etiquette: como entrar num bistrô parisiense. A cena que veremos a seguir, graças a Deus, é uma simulação. Seguia-se uma cena do torcedor brasileiro, de bermuda e camiseta da seleção carregando um bumbo e uma bandeira do Brasil, acompanhado da sua mulher também de bermuda e camiseta, entrando num bistrô espalhafatosamente, escolhendo uma mesa e gritando para o francês atônito atrás do balcão: BRASILEIRO - Ó, amizade. Baixa uma ceva, dois copos e uns quesquecê aí pra beliscá. FAISANDÉ (entrando na cena) - Arréte, arréte, arréte! Está tudo errado. Para começar, mude imediatamente de roupa. A bermuda e a camiseta do brasileiro se transformavam em terno e gravata. FAISANDÉ - Livre-se desse bumbo ridículo. O bumbo desaparecia. FAISANDÉ (depois de examinar a mulher e hesitar) - E desta mulher também. MULHER (começando a protestar) - Espera um po... A mulher desaparecia. FAISANDÉ - Essa bandeira... Não tem uma mais discreta? BRASILEIRO (segurando a bandeira contra o peito) - Epa. A bandeira fica. FAISANDÉ (suspirando) - Está bem. Alors, num bistrô não se entra assim, à la façon de Miguelon. Você espera na entrada para ser recebido e levado à sua mesa. Vamos de novo. O brasileiro entrava no bistrô e ficava esperando que o francês viesse recebê-lo, com Faisandé ao seu lado para instruí-lo. O francês não vinha. BRASILEIRO - Ó, amizade! FAISANDÉ - Amitiê. BRASILEIRO - O, amitiê! Gente boa! FAISANDÉ - Bon gens. BRASILEIRO - Bonjã! Comandante! FAISANDÉ - Commandant! BRASILEIRO - Commandant! Meu chapa! FAISANDÉ - Ma plaque! BRASILEIRO - Ma plaque! Não adianta, ele não vem... FAISANDÉ - Espere. Civilização é saber esperar. Ele está vindo... BRASILEIRO - Mas nessa velocidade? Ó lesma! FAISANDÉ - Escargot. BRASILEIRO - Ó escargot! Cortava para o brasileiro e Faisandé sentados à mesa do bistrô. O brasileiro olhando o prato de escargots à sua frente com cara de nojo. FAISANDÉ (para a câmera) - Segunda lição de etiquette: como comer num restaurante francês. Pediu escargot, tem que comer. Antes de mais nada, certifique-se que o escargot está pronto para ser comido. Se ele ainda estiver se mexendo, é porque não está pronto. BRASILEIRO - Olha, tem um tentando fugir do prato. FAISANDÉ - Deixa ele ir. Espere dez minutos. Se os outros não o seguirem, pode começar a comer. BRASILEIRO - Com que garfo? FAISANDÊ (mostrando) - Com este alfinete. BRASILEIRO - Acho que vou pedir outra coisa. FAISANDÉ (resignado) - Trés bien. Peça o menu. BRASILEIRO - Como se diz menu em francês? Faisandé fazia o possível para se controlar. BRASILEIRO (depois de receber o menu) - Está aqui o que eu quero. Uma boa carne. Este bife tartar deve ser bárbaro. Quando vinha o prato era recebido com outra cara de nojo do brasileiro. BRASILEIRO - O que é isto?! FAISANDÉ - Boeuf tartare. Carne crua picada. O brasileiro desistia. Levantava-se, virando a mês. BRASILEIRO - Eu vou embora! Devolve o meu bumbo. E a minha mulher! FAISANDÉ - Monsieur! BRASILEIRO - Eu quero meu bumbo e a minha mulher!

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