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Estratégia de ''''fazer o filme aparecer''''

Foi o que conseguiu destacar O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias entre os 9 finalistas de melhor estrangeiro no Oscar

Por Flavia Guerra
Atualização:

''''Não há receita mágica. Nenhum truque. Só muito trabalho, sessões públicas e privadas. Ou seja, é preciso fazer o filme aparecer, com que as pessoas descubram que ele existe. Depois disso, é o filme quem fala por si'''', explica o diretor Cao Hamburger ao comentar a estratégia adotada por ele, pelo produtor Fabiano Gullane e pelo publicist Steven Raphael para colocar O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias entre os 9 finalistas (entre 63 concorrentes) ao Oscar de melhor filme estrangeiro 2008. A lista dos nove filmes que disputam as cinco vagas finais para, finalmente, ser escolhido o melhor do ano, foi divulgada na terça pela Academia. Além de O Ano, e conta com o representante italiano A Desconhecida, de Giuseppe Tornatore; o austríaco The Counterfeiters, de Stefan Ruzowitzky; o canadense Days of Darkness, de Denys Arcand; o israelense Beaufort, de Joseph Cedar; o casaque Mongol, de Sergei Bodrov; o polonês Katyn, de Andrzej Wajda; o russo 12, de Nikita Mikhalkov; e o sérvio The Trap, de Srdan Golubovic. A tal da estratégia parece simples. Mas nem tanto. ''''Fazer o filme aparecer'''' entre 63 concorrentes de todo o mundo em um mercado que é praticamente auto-suficiente, como o americano, significa também publicar, desde setembro (quando O Ano foi escolhido o representante brasileiro), anúncios nos principais veículos de cinema dos EUA (a Variety, por exemplo), dezenas de sessões cujos participantes são escolhidos a dedo entre os chamados formadores de opinião do mercado de cinema, debates, muitos debates e participações em festivais e afins. ''''Fomos a cinco cidades, Nova York, Washington, Boston, Los Angeles e Palm Springs. Em todas, participávamos de debates com convidados profissionais da área. O efeito positivo que o filme provocava, o boca-a-boca, é que chamou a atenção'''', conta Hamburger, que dá por encerrada a ''''campanha O Ano no Oscar 2008''''. ''''É uma vitória. O objetivo sempre foi colocar o filme entre os nove. Agora é algo muito mais sutil. É o gosto dos 20 membros da Academia que vão ver o filme neste fim de semana e, na segunda, escolher os cinco finalistas.'''' Fabiano Gullane assina embaixo. ''''Estamos muito felizes. Agora é cruzar os dedos e esperar que tudo dê certo depois de tanto trabalho. Já é uma grande recompensa estar entre os nove'''', declara ele, que, para a campanha, contou com o orçamento de R$ 600 mil. ''''Desses, 360 mil foram aplicados pela City Lights, a distribuidora internacional do filme. O restante veio do apoio do Ministério da Cultura. A Ancine, o Programa Cinema do Brasil e o Itamaraty foram decisivos'''', explica. Gullane, Hambuger e o mundo cinéfilo devem esperar agora até a próxima terça, às 5h30 de Los Angeles, quando serão divulgados os 5 finalistas. O vencedor será conhecido em 24 de fevereiro em cerimônia que ocorrerá no Kodak Theatre, em Hollywood, e transmitida ao vivo pela ABC, às 17 horas de Los Angeles. Já que a estratégia brasileira foi simples e eficaz, vale lembrar que a escolha dos candidatos estrangeiros ocorre em duas fases. Na primeira, o comitê da Academia, com centenas de membros que residem em Los Angeles, assiste a todos os 63 candidatos e aponta os 9 finalistas. Na segunda, dez membros do comitê (escolhidos aleatoriamente), que selecionaram os filmes na fase 1, juntam-se a outros dez membros da Academia baseados em Nova York e Los Angeles. Então, todos assistem aos 9 finalistas nas sessões que ocorrem de amanhã a domingo nas duas cidades. O mito de que os tais votantes a filme estrangeiro são os ''''velhinhos do Oscar'''' parece estar ruindo no mundo cinematográfico. ''''Esta sempre foi uma curiosidade nossa. Mas a gente não pôde passar nem perto das sessões só para os membros da Academia. Conheci dois membros que votam na categoria e eles são produtores de cinema ''''normais'''', como nós. Não são velhos nem aposentados'''', brinca Hamburger. A tarefa deles com O Ano (que fez quase 400 mil espectadores no Brasil, está em DVD, passou por mais de 20 festivais - incluindo Berlim - e 30 países) está ''''quase'''' cumprida. ''''A última ação em Los Angeles consiste em hoje publicamos na capa da Variety um anúncio do filme. Em Nova York, vamos tentar chamar a atenção dos jornalistas para o fato de sermos o único latino-americano na lista final. Aliás, pode-se dizer ibero-americano, já que Espanha e Portugal também ficaram de fora'''', conta Gullane.

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