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Estrangeiros avaliam o nosso autor

Tradutores e professores revelam como os livros brasileiros são recebidos lá fora

Por Antonio Gonçalves Filho
Atualização:

A criação de uma rede transnacional pela internet, dedicada à instalação de um banco de dados, levou os organizadores do projeto Conexões Itaú Cultural - Mapeamento Internacional da Literatura Brasileira, iniciado no ano passado, a levantar informações curiosas não só para os escritores como para o mercado editorial brasileiro. A primeira delas é que nem só de Paulo Coelho vive a literatura do Brasil. O escritor vivo mais citado numa pesquisa desenvolvida com tradutores, professores e bibliotecários estrangeiros de 19 países pelos organizadores do projeto não foi Coelho, mas o autor gaúcho Moacyr Scliar, de 62 anos, autor de 17 romances, livros de contos e infantis. O Estado teve acesso exclusivo à lista dos nomes mais lembrados pelos participantes da pesquisa - liderada, como era de se esperar, pelo canônico Machado de Assis, citado 25 vezes na relação dos 55 especialistas consultados, seguido por Clarice Lispector e Guimarães Rosa. Não é só uma lista dos dez mais. Ela incorpora todos os autores citados mais de uma vez pelos tradutores e professores de português em universidades estrangeiras, trazendo nomes recém-traduzidos para o inglês, caso do escritor e redator-chefe da revista Veja, Mário Sabino, autor de O Dia em Que Matei Meu Pai, que recebeu uma entusiasmada crítica na Austrália. Casos como o de Sabino, com uma carreira relativamente curta na ficção e considerável índice de lembrança entre os pesquisados, atestam que a difusão e o alcance da literatura brasileira no exterior cresceram muito com a presença de editoras brasileiras em feiras internacionais e a troca de informações pela internet entre autores, tradutores e professores. O Instituto Itaú Cultural já realiza um trabalho de coleta de referências sobre escritores brasileiros por meio de sua Enciclopédia Virtual da Literatura Brasileira, disponível na internet, mas o projeto de mapeamento é ainda mais ambicioso, pretendendo funcionar como uma "cartografia digital da cultura brasileira", segundo Claudiney Ferreira, gerente do Núcleo de Diálogos do instituto. Um conjunto de ações começa a ser implementado para ampliar o banco de dados do Itaú sobre literatura, desde a gravação de um programa de rádio com escritores até o lançamento de um blog - já no ar - para captar informações sobre a presença e a recepção da literatura brasileira no mundo. Outra estratégia do instituto é a realização de encontros anuais entre críticos e escritores para discutir literatura brasileira, como Encontros de Interrogação, cuja quarta edição começa hoje com debates sobre o espaço da literatura brasileira. Durante o evento serão divulgados os resultados da pesquisa a que teve acesso o Estado. O editor Felipe Lindoso, consultor de Literatura do Itaú, diz, a respeito da pesquisa com os estrangeiros, que a radiografia da literatura brasileira no exterior não pretendeu reforçar a dicotomia entre alta literatura e literatura de entretenimento. Tanto que Paulo Coelho aparece na lista com quatro citações, mesmo número alcançado por João Ubaldo Ribeiro e Murillo Mendes, todos atrás de Chico Buarque (sete menções) e Mario de Andrade (sete menções). Entre os estrangeiros consultados estão nomes respeitadíssimos como o do tradutor alemão Berthold Zilly, da Universidade de Berlim, que traduziu Memorial de Aires, o último romance de Machado de Assis, e o norte-americano Charles A. Perrone, autor de um livro sobre Chico Buarque e grande especialista em Haroldo de Campos. Segundo a pesquisa do Itaú com esses especialistas, há ainda alguns obstáculos que dificultam a entrada dos escritores - especialmente os novos - no mercado internacional. A última Feira de Frankfurt pode ter reunido 43 editores brasileiros e levado quase dois mil títulos para a Alemanha, mas as ações governamentais são quase nulas na área, segundo a pesquisa. Não há incentivo para o ensino do português em países estrangeiros ou um programa oficial que promova traduções lá fora que funcione, nem mesmo o da Fundação Biblioteca Nacional, dizem os especialistas da área. "Está crescendo o interesse geral no Brasil e a literatura apenas pega carona", diz o americano Charles Perrone, que depende de traduções para ensinar literatura brasileira na Universidade da Flórida. "Quanto aos autores novos, o especialista estrangeiro recorre a sites como o Cronópios para se informar", conta Claudiney Ferreira, que se inspirou num relatório publicado por Ricardo Reis há 32 anos, na revista Escrita, para elaborar a pesquisa e mandar as perguntas aos estrangeiros. Os Dez Mais Os dez escritores mais citados pelos especialistas estrangeiros consultados na pesquisa realizada pelo Itaú Cultural são os seguintes: Machado de Assis Clarice Lispector Guimarães Rosa Graciliano Ramos Jorge Amado José de Alencar Manuel Bandeira Moacyr Scliar Rubem Fonseca Drummond de Andrade Países Para o mapeamento internacional da literatura brasileira foram consultados 55 especialistas (professores e tradutores) de 19 países. Entre os dez principais estão: EUA (11) Alemanha (9) Brasil (7) Argentina (4) Itália (4) Espanha (3) França (2) Inglaterra(2) Áustria e Croácia (1)

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