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Estado do Rio vai buscar patrocínio e oferece espaço para 'Queermuseu'

'Não compartilho da opinião de que um Estado deve censurar qualquer forma de expressão artística apresentada em um espaço cultural próprio para isso', diz André Lazaroni, secretário de Cultura do Estado do Rio

Por Roberta Pennafort
Atualização:

RIO - A Secretaria de Cultura do Estado do Rio quer trazer a mostra Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, defenestrada do Santander Cultural, mês passado, e do Museu de Arte do Rio (MAR), essa semana, para o Parque Lage, equipamento cultural de que dispõe na zona sul da capital.

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O secretário André Lazaroni (PMDB) exige, no entanto, que haja classificação etária para a mostra, atacada por movimentos conservadores que consideram que ela contém obras que incentivam o abuso de crianças e de animais. Em crise, o Estado afirma não dispor dos R$ 400 mil necessários para montá-la, sendo necessária a obtenção de patrocínio para tal. Outra saída seria um financiamento coletivo.

Vista do Parque Lage, no Jardim Botânico; Parque poderia receber a 'Queermuseu' Foto: FABIO MOTTA/ESTADÃO

Nesta quarta-feira, 4, o MAR divulgou nota atribuindo mais uma vez a decisão de não exibir a Queermuseu exclusivamente ao prefeito Marcelo Crivella (PRB). Ele declarou que as obras – de artistas como Adriana Varejão, Candido Portinari e Lygia Clark – fazem “apologia da pedofilia e da zoofilia”. Crivella negou que tenha incorrido em censura à exposição, e sustenta que está representando apenas o anseio popular. 

“Como órgão da administração pública municipal, o MAR cumprirá a ordem da prefeitura do Rio. Entretanto, o MAR acredita que os museus são espaços fundamentais para a diversidade. Eles nos ajudam a conhecer diferentes ideias de mundo e a entender outros pontos de vista. (...) Os debates propostos pela arte não devem ser interrompidos. Silenciar as discussões incômodas é não encarar os conflitos inerentes à sociedade”, diz a nota do MAR.

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O secretário de Cultura do Estado, André Lazaroni, discorda da decisão da prefeitura. Ele falou ao Estado sobre o assunto:

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Quanto custa a mostra? Há recursos para montá-la?

A secretaria não disponibiliza de recursos. A exposição custa algo em torno de R$ 400 mil e o Estado não pode arcar nesse momento. Mas o Parque Lage, que é um belíssimo equipamento cultural do Estado, está de portas abertas para acolher a mostra. Minha única exigência é que se estabeleça uma classificação etária indicativa.

O que fez com que o Parque Lage se interessasse por trazê-la ao Rio?

Acredito na democracia artística, sou a favor da arte em sua essência, mesmo que pessoalmente ela agrade ou não a cada um. Como chefe de Estado, o que me cabe é oferecer um espaço público para uma exposição de arte, e indicar uma classificação etária adequada. É o que está ao meu alcance como defensor da cultura. 

Como viu as reações à mostra?

Cada indivíduo adulto tem seu discernimento quanto ao que julga pertinente apresentar para seus filhos. Cabe a cada um a escolha de prestigiar ou não. Só não compartilho da opinião de que um Estado deve censurar qualquer forma de expressão artística apresentada em um espaço cultural próprio para isso.

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Como avalia o cancelamento da mostra pelo Santander Cultural, mês passado, e a desistência do MAR em tê-la? Houve censura?

Não compartilho da mesma opinião dos que decidiram pelo cancelamento. Compreendo e respeito, mas não concordo. É só uma questão de opinião.

O senhor teme reações violentas de movimentos conservadores, que tacham a exposição de “imoral”?

Não temo, porque reações como essas não podem ter força em uma república democrática. A liberdade de expressão faz parte do movimento cultural que rege o mundo.

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