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Em reforma, Municipal do Rio realiza visitas guiadas

Passeio permite aos visitantes acompanhar os 320 operários trabalhando para devolver as cores originais do teatro, que no próximo mês completará 100 anos

Por Roberta Pennafort
Atualização:

A gaúcha Katia Didone, estudante de arquitetura, nunca estivera no Teatro Municipal do Rio. O carioca João Vitor Oliveira, aluno da 7ª série de uma escola pública, já havia assistido lá ao balé Giselle e a um espetáculo do Grupo Corpo. Na quinta-feira passada, os dois se depararam com o foyer, a plateia, o palco e os corredores do Municipal em pleno processo de transformação: no lugar de barítonos e sopranos, operários cantavam (pagode); por todo lado, em vez do som orquestral, ouviam-se marteladas e viam-se andaimes e mais andaimes. Iniciadas há 8 meses, as obras de restauração do teatro, que completa 100 anos em julho, devem ir até o fim de novembro, prevê a diretora Carla Camurati. São 320 operários trabalhando. Desde o dia 28, visitantes podem acompanhá-los em ação. O passeio, que pode ser agendado pelo telefone (21-2332-9191) e é guiado por monitoras, começa pelo prédio anexo, onde há uma apresentação do contexto em que a construção foi erigida, em 1909. No prédio principal, o tour é iniciado pelo palco, onde serão trocadas as varas cênicas (estruturas que fazem as trocas de cenários). As pontes, de fabricação inglesa e originais, estão sendo revistas. "Todos os consultores internacionais disseram que não deveríamos mexer, porque elas estão em bom estado", explica Carla. No fosso e na área da plateia, altos andaimes chegam até o teto da sala de espetáculos. As poltronas foram retiradas e ganharão cobertura nova: sai o barulhento couro e entra um revestimento de veludo numa tonalidade fechada de rosa. "Queríamos deixar o mais próximo possível do original. Havia uma harmonia de cores entre as pinturas, os mármores e ônix das escadas que foi perdida quando se trocou pelo marrom", conta. Nos corredores e no foyer, o piso de mosaico está protegido por placas de madeira. Os lindos espelhos estão cobertos por plásticos com a inscrição: "Cuidado! Espelho." A escadaria de mármore de Carrara, com corrimões em ônix verde, está protegida por espumas; o bronze das colunas é limpo com produtos especiais; os lustres passam por revisão. Tudo é fotografado e descrito para orientação dos próximos responsáveis por reformas. A cúpula principal e as rotundas, cujos cordões eram originalmente dourados, mas há décadas ficaram esverdeados por obra da poluição do ar, estão ganhando de volta a tonalidade reluzente. O trabalho ficou a cargo do ateliê francês de Monsieur Gohard, o mesmo que já cuidou da Ópera de Paris e da Estátua da Liberdade. A águia de 6 metros de envergadura desceu do alto do teatro e também voltará a ser dourada. O público que faz a visita tem a oportunidade de entrar nos camarins e ver de pertinho figurinos de espetáculos que marcaram os 100 anos do Municipal: as óperas A Viúva Alegre, A Flauta Mágica e O Morcego e os balés Copélia, O Quebra-Nozes e O Lago dos Cisnes. O trabalho está orçado em R$ 55 milhões (são oito patrocinadores). De acordo com Carla Camurati, o atraso de quatro meses nas obras (elas terminariam em julho, para uma grande festa pelo centenário) se deu porque, iniciado o processo, descobriu-se a necessidade de mais reparos, principalmente na sala de espetáculos. Ela não chegou a se sentir frustrada por conta do adiamento. "Eu ficaria frustrada se não fizesse o que tem de ser feito. Iria me doer na consciência. Na hora em que vi uma quantidade enorme de ornatos lindos cobertos, pensei: ?Como é que eu vou pintar por cima??" Carla refere-se à recuperação do douramento de trechos do teto da sala de espetáculos, que haviam sido cobertos por tinta plástica numa reforma anterior, e da cúpula, do lado de fora, que era dourada até 70 anos atrás, como mostraram as pesquisas em fotografias. Além do teto do restaurante do teatro, Assyrio, originalmente ornamentado, depois monocromático, e que agora está voltando a ser como era. A reabertura ainda está distante, mas, por enquanto, o menino João Vitor se diverte ao ver os bastidores da reforma: "Tudo aqui é especial, principalmente a arquitetura", disse João, que faz parte do grupo de teatro de sua escola e pensa em ser "ator ou advogado". "Quem sabe um dia não me apresento aqui?" A universitária Katia pretende voltar para ver o resultado. "Moro em Pejuçara, cidade com 5 mil habitantes. Este teatro é incomparável."

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