Em ferveção na pista, clubbers faziam figa e perguntavam: ''Será que ela vem?''

Quando chegou aqui em 1993, Madonna vinha no embalo dos escândalos causados pelo livro Sex e pelo disco Erotica. Veio juntar a fome com a vontade de comer, porque na noite paulistana a promiscuidade estava, digamos assim, na moda. Era o tempo das almôndegas do clube Massivo, da redescoberta da liberdade sexual depois do susto da aids. "Foi engraçado porque parecia que tudo o que ela vinha fazendo e chocando pelo mundo foi imediatamente aceito aqui, combinava com o momento que a noite de São Paulo estava vivendo", analisa o DJ Mauro Borges, figura histórica da ferveção nacional. Sem medo de errar, pode-se arriscar dizer que Borges foi o primeiro DJ a tocar Madonna nas pistas de São Paulo, quando ela ainda estava mais para rainha do pop do que para rainha da dance music. E só quem esteve numa pista comandada por ele nos anos 90 sabe o que isso significa - todo bofão, ele pôs todo mundo para repetir os passos da diva no clipe Vogue. "Lembra que elas e os bailarinos se juntaram no palco numa pegação? No dia seguinte, um jornal deu a manchete ?Madonna faz almôndega no palco?. Hilário!", lembra o DJ. Eram tempos mais inocentes, não há dúvida. Por todos os cantos, pipocavam festas em homenagem à diva. Uma delas - chamada Será Que Ela Vem? - causou extremo barulho, diante da expectativa de que Madonna poderia, sim, dar uma passadinha lá (depois do impeachment de um presidente corrupto, o povo achava que tudo era possível). "O povo viaja, né? Há quem jure que ela foi a uma outra festa, na boate Rave, da Rua Bela Cintra. Não acredito. Mas é certeza de que o elenco do show - o irmão dela, inclusive - foi visto dançando no queijo", conta Borges. Como em 1993, o DJ organiza o Madonna Bus, que vai levar os amigos para o Morumbi no show do dia 20. Na volta, o povo desembarca na Rua Augusta, numa festa no Boca Club. "Mas nessa eu sei que ela não vai vir, tá? O nome poderia ser ?Ela Não Vem Mesmo?", diverte-se ele.