PUBLICIDADE

Elton brinda os fãs com enxurrada de sucessos

Em quase duas horas e meia de show, cantor deu o que 29 mil pessoas queriam

Por Lauro Lisboa Garcia
Atualização:

Que Madonna, que nada. Como diz um bem-humorado amigo publicitário, a verdadeira "rainha do pop" é Elton John. No ofense, please, é só uma brincadeira. A diferença é que, para um astro dessa grandeza, abertamente gay, até surpreendeu o fato de que, entre o público que compareceu à apresentação do cantor anteontem no Anhembi, não tenha se revelado nem um terço da fauna gay que se viu nos shows de Madonna em dezembro. Talvez porque o pop dela tenha mais apelo dançante, mas com sua atitude honesta, Elton até pode ter feito mais pela "causa". Alguns desses fãs até se divertiam gritando "linda" para Elton, mas enfim, fica mais uma vez provado que, ao contrário do que ocorre com certas cantoras brasileiras, não é solidariedade de quem tem a mesma orientação sexual que faz o ídolo. A música de Elton está acima de qualquer bandeira. Ele não precisa cantar temas explícitos sobre "o amor entre iguais", embora a letra de Daniel possa ser entendida como tal nas entrelinhas. Outro ponto a favor de sua índole artística é, nestes tempos em que a música-produto via discos deixou de abastecer o bolso dos cantores, ele, do alto de sua carreira de mais de três décadas não precisa provar mais nada. Para um senhor de 61 anos, com uma coleção invejável de hits, basta que ainda tenha vontade e capacidade de cantá-los bem. Melhor do que lançar coisas "novas" ruins, como se provou a malfadada fusão de Paul Rodgers com o que restou do Queen. A multidão eclética e atenta de 29 mil fãs de todas as idades e estilos que lotou a arena do Anhembi - jovens, casais caretas, gays, senhoras, senhores, gente fantasiada com cartola e grandes óculos imitando o ídolo e até crianças - foi lá para ouvir o que já gosta dele. E Elton, abrindo com ênfase a temporada internacional de 2009, não decepcionou. Em quase duas horas e meia de shows brindou o público com uma enxurrada de hits, desde Rocket Man, que dá nome à turnê, em que se prolongou numa jam session, até baladas como Sorry Seems to Be the Hardest Word e Your Song, canções que fizeram muitos românticos suspirarem e dançarem abraçados. Nem tudo, porém, esteve a seu favor. A escolha do Anhembi já é um equívoco, com visibilidade precária, a antifuncional situação dos acessos aos serviços (bares, caixas, banheiros) e de acústica sofrível. Para piorar, o volume do som estava muito baixo, até para quem estava perto das caixas na área VIP. As evoluções de Elton no piano, um de seus grandes diferenciais, seriam mais proveitosas num ambiente fechado e menor. Ainda havia a ameaça da chuva, que começou a cair fracamente logo no início de sua apresentação, mas logo se dissipou. Parecia um mau agouro que Elton tivesse iniciado o show com o tema instrumental de título soturno como Funeral for a Friend, que ele emenda, como na gravação original com Love Lies Bleeding, mas foi um belo início, seguido da provocativa The Bitch Is Back. Então, o cantor desencavou uma de suas canções mais elaboradas do início da carreira, Madman Across the Water. O público manteve-se atento e silencioso, mas não se animou muito nem com esta nem com outras que vieram a seguir. O show começou a deslanchar a partir da oitava música, Goodbye Yellow Brick Road e manteve o pique com clássicos como Don?t Let the Sun Go Down on Me, Bennie and the Jets, Tiny Dancer, Honky Cat, Candle in the Wind (em piano-solo), Sad Songs, em ótimo arranjo de rhythm, talvez seu melhor momento. Carismático, cordial, em boa forma vocal e esbanjando simpatia e competência, Elton até fez malabarismos subindo no piano, mas manteve a linha, envergando até um fraque com estampas zoológicas coloridas nas costas. É claro que tem seu aspecto kitsch, tão assumido quanto a preferência sexual do cantor britânico, e o público que entenda como quiser. Uns se enternecem ao ouvir a brega Sacrifice (com tecladinho terrível ao fundo), outros riem do teor meloso de Skyline Pidgeon. Na reta final, as canções mais dançantes, misturando disco music e rock - Philadelphia Freedom, I?m Still Standing, Crocodile Rock e Saturday Night?s All Right for Fighting - levantaram o público, mas faltou volume para que elas realmente trincassem a pista. Ah, antes teve o tedioso James Blunt, que, com ar de mauricinho mimado e carente, segurou a onda com umas três ou quatro musiquinhas de trilha de novela. Incluindo, claro, a insuportável You?re Beautiful, apontada numa enquete britânica como a segunda música mais chata de todos os tempos. É uma unanimidade planetária.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.