Eles não se cansam de inventar moda

Estilistas conhecidos pelos desfiles em passarelas do País estendem cada vez mais suas habilidades a diferentes áreas artísticas, passando pela dança, teatro, cinema e televisão

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Por Livia Deodato
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No palco, na tela ou na TV, o peso de uma grife responsável pelo figurino de personagens é diluído em meio aos créditos finais ou em letras miúdas, grafadas no programa a ser entregue momentos antes do início do espetáculo. Bem diferente da lógica vigente na atual semana, dita ?da moda?, quando estilistas e suas respectivas marcas ganham os holofotes (e manchetes de jornais e revistas) ora por ousadias, ora por monotonias e repetecos exibidos durante a São Paulo Fashion Week. No entanto, atualmente, muitos desses profissionais parecem pouco se importar com o fato de seu estilo, vez ou outra, descer das passarelas e passear pela dança, pelo teatro, no cinema e na televisão. Muito pelo contrário, sentem prazer nesse refúgio. "Tudo é arte. Faz parte do reconhecimento do seu trabalho", opina Raquel Davidowicz. A estilista, fundadora da grife UMA, que, por sinal, mostra a sua coleção de inverno 2009 no prédio da Bienal hoje, às 17 h, foi convidada a pensar o figurino a menos de um mês da estreia de Entreato, do coreógrafo Paulo Caldas, em novembro passado. A peça contemporânea foi encomendada pela São Paulo Companhia de Dança. Uma das justificativas apontadas por Inês Bogéa, diretora-adjunta da companhia, em relação à preferência de uma estilista a uma figurinista, foi a abstração em que vagava o pensamento de Caldas sobre as vestimentas de seus quatro bailarinos - e que só um estilista, com infinitas coleções já criadas, poderia ser capaz de preencher. Saíram, então, em busca de um profissional que flertasse com o universo urbano, fosse capaz de acentuar a personalidade de cada bailarino e mantivesse um diálogo com seus movimentos. Fecharam com Raquel. A diferença em se criar uma coleção para determinada estação e figurinos que deem vida a personagens e bailarinos encontra-se, basicamente, no tecido utilizado, que precisa ser muito mais flexível e durável. Além, é claro, de ajudar a contar uma história. Ronaldo Fraga que o diga com o espetáculo Giz, do grupo de teatro de bonecos Giramundo, cuja estreia se deu em setembro. "Pensei nos figurinos dos manipuladores como uma extensão dos bonecos. Utilizei um não-tecido, o tyvek, que imita papel", revela o segredo. "É uma coisa que eu adoro, porque acontece da mesma forma como monto a minha coleção: existe pesquisa, construção do personagem através da roupa e é necessário tempo para acompanhar a evolução dos ensaios, o que muitas vezes me falta, infelizmente. O figurino tem de ser orquestrado com a cenografia, com a trilha, com a história que se quer contar." Enquanto Fause Haten enxerga o trabalho de figurinista como um hobby - e se dedica a ele graças ao convite dos amigos da Cia. Luis Louis (em cartaz no Centro Cultural São Paulo com as peças 650 Mil Horas e Sistema Nervoso) -, Walter Rodrigues, por sua vez, curte a amplitude que ganhou a sua vocação e a "imensa liberdade de se criar" nesse universo. Há pouco mais de quatro anos, Walter é estilista-figurinista de todo e qualquer trabalho da Sociedade Masculina e do Studio 3 Cia. de Dança. "Ele é de um bom gosto inquestionável. Faz estudos, apresenta diversas possibilidades, acompanha os ensaios, vibra, chora, ri. O Walter compra a história como se fosse a sua própria", conta Anselmo Zolla, coreógrafo dos grupos. E se engana quem pensa que contratar estilistas para trabalhar como figurinistas sai mais caro (ainda mais em tempos de crise). Sem revelar valores, os envolvidos garantem um ótimo custo-benefício. Licença a Drummond para um complemento nos versos de Eu,Etiqueta, em que explica que tudo isso não passa de "mensagens, letras falantes, gritos visuais, ordens de uso, abuso, reincidências", mas alimentam o sonho.

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