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Ele adora fazer barbaridades em Paraíso Tropical

Wagner Moura fala do prazer em interpretar o Olavo da novela das 8 e do próximo trabalho: viver Hamlet no teatro

Por Leila Reis Email: leilareis@terra.com.br
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Na opinião de muita gente, a melhor coisa da novela Paraíso Tropical é Olavo. O vilão interpretado pelo baiano Wagner Moura é, segundo ele, uma distorção do capitalismo selvagem. O sujeito que consome o tempo armando todas para destruir o rival Daniel (Fábio Assunção) e subir na vida dá muito trabalho para Wagner, a ponto de ele não poder testar nas ruas a sua popularidade: ''''Minha vida é do Projac para casa.'''' No intervalo das inúmeras cenas que grava diariamente, o ator atendeu o Caderno 2. Nesta entrevista exclusiva, ele conta que, depois de deixar o atormentador Olavo, vai encarar o atormentado Hamlet, sob direção de Aderbal Freire Filho no teatro. Qual cena você acabou de gravar? Uma em que conheço a personagem da Débora Secco, uma garota contratada pela Bebel (Camila Pitanga) para melar meu casamento com Alice (Guilhermina Guinle). O Olavo é o grande esperto ou o grande otário do pedaço? Acho que nem uma coisa nem outra. É um sujeito equivocado, deformado pela criação, pela perda do pai e pela relação com a mãe. Ele é o arquétipo do capitalismo selvagem, uma distorção. Você acha que o caráter do Olavo representa uma parcela da população brasileira? Qual? Esse tipo não existe só no Brasil. No mundo inteiro há gente que não poupa esforços para conseguir o que quer. E em todas as classes sociais: existem pobres mau-caráter, gente de classe média que não vale nada, pessoas que perdem toda a noção da ética, da solidariedade, mas que não se enxergam como vilões. Uma fala do Olavo expressa isso: ''''A função social das empresas é ganhar dinheiro, porque só assim elas geram emprego.'''' Achar que o dinheiro é um fim em si é o grande equívoco. Qual é a dor e a delícia de ser Olavo? É muito divertido, porque ele não tem limites morais, ao contrário da gente. O legal é poder fazer barbaridades sem causar mal a ninguém de verdade. Por isso, acho que não há dor ao fazer o Olavo Qual a pior maldade dele? Foi o plano mirabolante de incriminar Daniel (Fábio Assunção) na Bahia, em que envolveu chantagem, menor de idade, polícia. Forte também a primeira cena em que ele escorraça a mãe (Vera Holtz) do escritório. Esse era o papel que você pediu a Deus? É um superpersonagem. Um vilão de Gilberto Braga é o papel que qualquer ator pediu a Deus. É seu melhor papel na televisão? O melhor é aquele que estou fazendo na hora. E o ruim? Não tem. O bom de novela é que, por ser muito longa, dá para consertar o personagem quando ele sai fora do trilho. Vai-se assistindo e acertando. Como foi estar todo dia na novela das 8, mudou sua vida? Não percebo porque ando muito pouco na rua. Minha vida é do Projac para casa. E lógico que a novela das 8 é mais popular do que todos os trabalhos que fiz até hoje. Quando estou na rua, no supermercado, as pessoas brincam comigo, falam coisas engraçadas sobre o Olavo. Quando você morava na Bahia, tinha a fantasia de ser um ídolo popular? Não, sou um cara de teatro, muito orgulhoso do teatro baiano em que atuei durante dez anos. Mas queria vir para o sul para trocar mais com outros atores. Quando vim para cá fazer A Máquina, do João Falcão, eu queria isso: encontrar outros artistas. Como a TV entrou na sua vida? Foi uma conseqüência do trabalho no cinema. Depois que fiz Deus É Brasileiro, Antonio Fagundes me levou para fazer Carga Pesada. Eu era o filho do Bino, personagem de Stênio Garcia. Sinto saudade da série Sexo Frágil, escrita e dirigida por João Falcão, porque era uma coisa experimental, quase teatro na televisão. Você tem uma trajetória consistente em teatro e cinema. De qual expressão você gosta mais? Nunca rejeitei a TV, mas quando vim para cá tinha o objetivo de fazer cinema. Mas gosto muito de teatro, porque ele mudou minha vida. Comecei com 15 anos, aprendi valores que me acompanham para sempre e encontrei a minha turma. Qual é o seu modelo de ator? Sou fã de Pedro Cardoso, assim como Wladimir Brichta e Lázaro Ramos também são. O trabalho da gente tem um pouco dele, nós imitamos o Pedro Cardoso, que é um gênio. Em A Lua me Disse você foi protagonista. Gostou de ser galã? Tenho orgulho de tudo que fiz na vida, porque fiz com paixão. O que você considera bom e ruim na televisão? Não acho que a TV tenha obrigação de educar, essa função cabe à escola. Existem profissionais que elevam o nível da TV, os programas do doutor Drausio Varela, por exemplo, são maravilhosos. Mas acho que TV é entretenimento, acho a cobrança da função educativa é exagerada. Dentro do entretenimento, as novelas são muito bem-feitas. E o que tem de ruim? Não gosto de programas de fofocas, assim como não gosto de revistas de fofocas. Qual atividade te deu mais dinheiro? A televisão, sem dúvida nenhuma. Qual seu projeto para depois da novela? Vou produzir e atuar em Hamlet, dirigido pelo Aderbal Freire Filho. Com o dinheiro que ganhou na TV? Nada disso, pretendo captar recursos para ver se faço a estréia em abril.N

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