Eddie faz seu protesto com fanfarra

Grupo pernambucano comemora 20 anos com show de Carnaval no Inferno

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Por Lauro Lisboa Garcia
Atualização:

o álbum Carnaval no Inferno, que tem show de lançamento hoje no Sesc Pompeia, a banda pernambucana Eddie, de Olinda, comemora 20 anos de carreira, período em que gravou apenas quatro álbuns (veja no quadro). Uma das bandas pioneiras do movimento mangue beat, ao lado de Chico Science & Nação Zumbi e mundo livre s.a., a Eddie ficou com o estigma de injustiçada nesse cenário. Mas é que no começo seus integrantes nem pensavam em se tornar profissionais, como lembra o guitarrista, compositor e cantor Fabio Trummer, único remanescente da formação original. A partir de quando passaram a "pagar as contas" com o que ganhavam fazendo música, os músicos evoluíram. Variando de som de um disco para outro, eles começaram com rock pesado e foram incorporando elementos mais "brazucas". Ouça trecho de O baile (Betinha) Agora, a batida do violão e os versos "Dias de luz/ Festa do azul/ Celestial" de Bairro Novo/Casa Caiada (Fabio Trummer), faixa de abertura do novo CD, dão a pista. Eles botaram bossa nova no frevo urbano de atitude roqueira, para onde desemboca a canção batizada com o nome de dois bairros de Olinda, à beira-mar, onde Trummer se criou. "Esse violão era para causar um estranhamento mesmo", diz ele. É ainda mais curioso quando se sabe que o conceito de Carnaval no Inferno, em princípio, era de um disco de protesto, de "punk de meia-idade", como define o líder da banda. "Embora o resultado seja mais brasileiro, a estrutura das canções é de punk-rock, com três acordes, bem simples." O manifesto "de reclamação" é de ordem social e ambiental, mas também tem a festa no meio, para equilibrar os dois polos. "A gente não quis perder totalmente a identidade dos outros CDs, para que o público que tínhamos conquistado não achasse tão estranho." O título é forte, provocativo. Mas se "o carnaval é a invenção do diabo que Deus abençoou", como dizia o baiano Caetano, e o povo nordestino explode em festas coloridas em meio à miséria, está tudo em casa. E também "até um punk de meia-idade se permite ir a uma gafieira", ironiza Trummer. Além dele, a formação atual da banda tem Alexandre Ureia (percussão e voz), André Oliveira (teclado e trompete), Rob Meira (baixo), Kiko Meira (bateria). No show de hoje eles contam com a colaboração da cantora Karina Buhr, ex-integrante da banda, e do compositor Junio Barreto. Karina solta a voz na já citada faixa de abertura, em Eu To Cansado Dessa Merda e O Baile (Betinha), um irresistível samba de gafieira de Erasto Vasconcelos, uma das mais pedidas no show da Eddie. Erasto também faz vocal em outra faixa, Metrodux. Sempre boa de "releitura", a Eddie também retoma agora Gafieira no Avenida, dos "zumbis" Jorge Du Peixe e Lúcio Maia, que entrou para a trilha sonora do filme Amarelo Manga, de Cláudio Assis. Junio assina a parceria de Quase Não Sobra Nada com Trummer, autor de todas as outras faixas, incluindo Nada de Novo, homenagem ao flautista Rafa, do Mombojó, morto precocemente em 2007. O CD ainda tem participação de músicos como o baterista Curumin e o percussionista Da Lua. Os trombonistas Nilsinho e Mestre Nico contribuem para reverberar o clima de fanfarra, que influencia o som da Eddie. Não foi à toa que a banda tocou um cover de Nantes, do sensacional grupo americano Beirut, em ritmo de frevo no festival Recbeat no carnaval do Recife deste ano. "O último gênero que estudei e que me interessou foi a música cigana. E, viajando pela Europa, a gente tocou com muitos grupos que têm a fanfarra como principal ingrediente na música deles", conta. "Há uma grande semelhança entre o que eles fazem e a música nordestina. O Beirut soa pra mim como The Smiths com fanfarra e tem a ver com o caminho que a gente vinha seguindo, que era usar os metais. O frevo tem muito disso também, mas não uma coisa que a polca, por exemplo, tem: uma vontade de sair pulando e tomando todas." Para quem perder o show de hoje, tem mais nos dias 4 de abril e 5 de maio no Studio SP.

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